domingo, 7 de dezembro de 2008

UMA TRÍADE NA ESPIRITUALIDADE MINISTERIAL:CARISMA, CARÁTER E CARIDADE

*Por Bispo Josué Adam Lazier

Introdução

Gosto de pensar na espiritualidade enquanto uma relação das experiências adquiridas, do conhecimento e do saber com a vida prática. Em outras palavras, pensar na conexão do interior com o exterior. A espiritualidade nos desafia a sermos uma pessoa que evidencia esta conexão em todos os momentos da vida.

No que se refere aos ministérios desenvolvidos, a espiritualidade conecta o sentido de vocação com os atos ministeriais praticados. Destaco, portanto, uma tríade nesta espiritualidade ministerial: carisma, caráter e caridade. Sem carisma não há qualidade e autoridade no ministério que se exerce, sem caráter não há autoridade nas ações pastorais e ministeriais e sem caridade não dá para chegar ao coração das pessoas com as quais trabalhamos.

Carisma
Já tive a oportunidade de desenvolver este tema em outros textos, incluindo o livro publicado pela EDITEO (O Carisma do Ministério Pastoral), onde apresento os contornos do carisma pastoral. Ao falar de carisma estou me referindo ao ato de reconhecimento e de mandato dado pela Igreja. O carisma, seja do ministério pastoral ou dos ministérios laicos, é reconhecido pela comunidade cristã e desenvolvido em sintonia com a eclesiologia. Não cabe, seja qual for a denominação, um ministério autônomo e sem qualquer relação com as doutrinas, em especial a que define o modo de ser igreja.

Carisma significa o dom através do qual o Espírito Santo age na vida do cristão e da Igreja na medida em que o cristão se oferece a Deus em resposta ao Seu amor. O carisma se evidencia de forma comunitária e não individualizada, pois ele se expressa por meio da dedicação da pessoa ao serviço de Deus e por meio da Sua Graça.

Em outras palavras, o carisma que atribui autoridade ao ministério, não é o pessoal, não são os dons pessoais ou os talentos da pessoa, e sim o mandato, a ordenação ou a consagração realizada pela comunidade de fé.

Caráter
O ministério “carismático”, ou seja, aquele que tem o carisma dado pela Igreja é acompanhado por comportamentos e atitudes que evidenciam uma boa índole, um bom caráter, um conjunto de boas qualidades. Nas cartas pastorais (I e II Timóteo e Tito) o autor apostólico destaca várias qualidades que se referem ao comportamento ético e relacional dos líderes da comunidade de fé. Fala, portanto, de caráter e de integridade na vida pessoal, familiar e social.

Falar do carisma é o mesmo que falar da integridade da pessoa. O que confere valor e autoridade ao carisma recebido por ordenação e consagração é a integridade que a pessoa evidencia, em termos de comportamento ético, responsabilidade, transparência, honestidade, respeito e confiabilidade. Sem esta integridade a pessoa que exerce um determinado ministério, mesmo que possua o carisma, não possuirá autoridade e legitimidade para suas ações ministeriais. Da mesma forma que na figura da espiritualidade há conexão do interior com o exterior, deve existir conexão entre o carisma dado pela Igreja e o caráter da pessoa que recebe o mandato (carisma). O carisma sem caráter não tem substância e qualidade.

Caridade
Poderia falar do amor, mas preferi a expressão caridade. Parece que o amor tem sido tema dos escritores bíblicos que ficou distante de nós, tema de músicas que são cantadas nas igrejas locais dominicalmente ou tema de poesia e romance. O amor como descrito pelas sagradas escrituras e que se refere ao ato de entregar-se pelos outros, perdoar, pedir perdão, restauração, etc, parece ser algo que ficou no passado. O amor se transformou meramente numa virtude teologal quando deveria ser um fruto sempre presente na vida do cristão. Desta forma, a música que fala da volta ao primeiro amor, lembrando a carta dirigida à Igreja de Éfeso (Ap 2.4), tem razão: a Igreja precisa voltar ao primeiro amor e começar de novo suas boas obras na ótica do ágape.

Optei por falar da caridade, pois se não é possível amar como Cristo amou, que haja pelo menos caridade para com os mais fracos, caridade para com os diferentes, caridade para com o que pensam de forma diferenciada e que ela seja para integrar e incluir os que ficam marginalizados. Recordo-me das palavras do apóstolo Paulo dirigidas aos tessalonicenses, quando diz: “admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejas longânimos para com todos” (I Ts 5.14). Estas palavras inspiram, de certa forma, atitudes de caridade.
Caridade pode ser complacência, benevolência ou compaixão e caridoso seria aquele que procura identificar-se com o amor de Deus. Se conseguirmos isto em nossas práticas ministeriais já estaremos num bom caminho.

Tentando concluir
Não dá para concluir. Esta reflexão apresenta inquietações, preocupações, desafios, provocações, questionamentos, convite para o diálogo e para o aprofundamento do tema do carisma. Vamos seguir conversando...

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*Josué Adam Lazier é Bispo da Igreja Metodista

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A IGREJA E O MESSIAS: A Expectativa de Justiça

* Rev. Efraim Sanches Pereira
"Do tronco de Jessé sairá um rebento, ...julgará comjustiça os pobres,e decidirá com equidade a favor dos mansos da terra;"(Is 11.1,4)
Sabemos que Justiça é um ideal. Jamais, neste mundo em quevivemos, teremos a bênção de ver prevalecer aquilo que écorreto, digno, justo e perfeito. Esta retidão não é domíniodos mortais, mas dos deuses! Por causa disso, devemos abdicar de buscar a Justiça? Naturalmenteque não!
O ser humano possui dentro de sí o desejo e o apelo desempre procurar viver e agir de forma a manifestar as características que o Livro da Lei, a Bíblia, chama de "Imagem de Deus"implantada em nossas mentes e corações. Assim, nem que seja para se sentir um pouco divino, todo homem/mulher busca ser justo.
A Justiça é uma esperança! É assim que devemos ler este texto da Bíblia, onde o profeta vive um contexto de crueldades, parcialidades, desmandos, corporativismos, deslealdades, subornos dos magistrados, burla da Lei, usurpações de heranças, desigualdade social e econômica, escravidão, violência. Tudo isso é parte integrante da realidade do homem Isaías, que se revolta e num rasgode esperança, apresenta sua visão de como deveria ser um Juíz eou um Rei.
A Justiça também é compromisso. O que admira na palavra doprofeta não é a descrição do que deve ser um homem público,mas sua crença firme de que haverá um dia em que finalmente, oideal de justiça prevalecerá. Ele mantém, mesmo diante de umarealidade adversa, uma confiança de que em breve o Deus Eterno sefará notar na figura de um Enviado, que com seu comportamento perfeito, realizará os anseios e desejos dos injustiçados.
A Igreja está na condição de Agência do Reino de Deus. Ela éo Messias antes que Ele volte. Sua presença na educação, nogoverno, nas várias instâncias da vida cidadã deve sercomprometida com a realização da esperança. O Messias não está patrocinado pelo capital, mas pelo sonho de Deus e seu projeto para homem. As "autoridades" religiosas nada mais são do ques ervos e instrumentos da concretização da vontade de Deus.
Nos aproximamos do Natal, uma das épocas em que a desigualdade e a injustiça mais se fazem notar. É o momento de reafirmarmos, juntamente com Isaías, o compromisso com um futuro diferente desse nosso presente, em que inocentes são presos; autoridades não tem pejo de vir a público dizer que não punirão o faltoso, por puro corporativismo; pais de família são despedidos, em detrimento do capital; crianças são postas no mundo sem qualquer responsabilidade; poucos teimam em ter muito, quando muitos não tem nada; alguns retém mais terra do que podem cuidar; trabalhadores dignos, tratados indignamente, ficam sem salário; criminosos ilustres ficam sem punição. E se continuar, faltará espaço!
Diante do exposto, na figura do Messias, (que não tem nenhumcompromisso com essa estrutura religiosa que existe em nosso mundo e que teima ilegitimamente em ser Sua representante), assumamos com o profeta:"Naquele dia recorrerão as nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos povos; a glória lhe será amorada". (Is 11.10). Renovemos nossa confiança; não abandonemos nossa utopia, pois outros viveram antes de nós, que alimentaram sua luta nesta mesma esperança, certos de que as gerações futuras não abandonariam o ideal. É difícil, mas deve sempre existir alguém que mantenha a Luz acessa, para esta denuncie e espante as trevas. Se a lâmpadaapagar-se, como encontrar o caminho?
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*Rev. Efraim Sanches Pereira- 5ªRE