terça-feira, 24 de maio de 2011

Carta Aberta do Bispo Metodista Aldo Etchegoyen a Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos da América.

Carta Aberta do Bispo Metodista Aldo Etchegoyen a Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos da América.



Dr. Barack Obama

Senhor Presidente

Após a operação militar acontecida no Paquistão, de cujo planejamento o senhor participou pessoalmente e que culminou no desaparecimento forçado, morte e afundamento no mar de Osama bin Laden, surgem-me algumas perguntas.

Onde o senhor aprendeu semelhante metodologia a serviço da morte? Na escola dominical de sua igreja, onde recebeu os primeiros ensinamentos do evangelho da paz? Na escola pública ou privada, onde aprendeu a ler e a escrever? Talvez na universidade onde se graduou ou na cultura estadunidense onde o senhor se desenvolveu como pessoa? Quem sabe no partido político por meio do qual chegou à presidência deste poderoso país?

Não creio que por estes caminhos o senhor tenha chegado a pensar e a atuar tão violentamente, violando toda a lei e o direito nacional e internacional. Estive em seu país onde encontrei gente boa, regular e má, como em qualquer outro país do mundo. Sei também que os elogiadores da morte associaram-se ao senhor. Também sei que outros deploraram o acontecido, mas preferem manter um status cúmplice de silêncio, por via das dúvidas, sabe? Melhor não serem mal interpretados.

Volto à pergunta: onde aprendeu semelhante maneira de pensar e consequentemente atuar?

Sabe de uma coisa? Nós, na Argentina, conhecemos esta metodologia de atuação por parte daqueles a quem os senhores chamam de “tropas de elite”. Em nosso caso foram grupos-tarefa que roubavam pessoas e bens de milhares e milhares de famílias. Não lhe conto o que faziam com estas pessoas, para não acrescentar tristeza à celebração e à alegria que o senhor e sua equipe têm pelo êxito alcançado. Estes grupos-tarefa também roubavam. Terão também feito o mesmo os integrantes de sua “tropa de elite” que irrompeu como o ladrão à noite na casa de bin Laden? Provavelmente! Não com má intenção, mas para levar uma lembrancinha do lugar.

Conto-lhe que a nós aconteceu a mesma coisa, mas com a abismal diferença de que ninguém, absolutamente ninguém, se vingou pelo acontecido. E o número de desaparecidos é estimado em 30 mil pessoas.

Cremos que a morte não mata a morte, mas a favorece e a faz renascer com outro nome: vingança!

Nós sabemos onde foram educados aqueles que dirigiram e participaram destes grupos-tarefa. Foi na Escola das Américas, instituição “educativa” programada pelo seu país mas, naquela época, no Panamá, fora das fronteiras dos Estados Unidos, talvez para não contaminar seu território, exatamente como acontece hoje no centro de prisão e torturas instalado na base militar de vocês em Guantánamo, Cuba.

Mas... ocorre-me outra pergunta. Não terá o senhor estudado nesta mesma Escola Educativa?... Perdão, não quero ser desrespeitoso. É somente uma suspeita, seguramente sem fundamentos.

Finalizo com as palavras de alguém que tinha a mesma cor de sua pele, seu compatriota que no passado dizia: “Fico de luto pela perda de milhares de preciosas vidas, mas não me regozijo pela morte de qualquer uma, nem mesmo a de um inimigo. Devolver ódio por ódio, multiplica o ódio. É agregar maior escuridão a uma noite já desprovida de estrelas. A escuridão não pode eliminar a escuridão. Só a luz o pode fazer. O ódio não pode eliminar o ódio. Só o amor o pode fazer”.

Chamava-se Martin Luther King.

Saúdo-o com todo o meu respeito.

Aldo M. Etchegoyen, co-presidente da APDH (Assembléia Permanente pelo Direitos Humanos). Buenos Aires, Maio de 2011.

Prensa Ecumênica

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