sexta-feira, 27 de maio de 2011

O que querem os Metodistas Confessantes, afinal de contas?

O que querem os Metodistas Confessantes, afinal de contas?



“Quem são os Metodistas Confessantes?” “O que eles querem?” “Quais seus objetivos, sua agenda secreta, seus intentos?” “São uns rebeldes que visam derrubar os líderes da Igreja Metodista.” “São os descontentes e derrotados do Concílio Geral de Aracruz/2006 que buscam vingança.” “São um grupo cuja militância é fundamentada na Teologia da Libertação.”

O ser humano, no decorrer dos séculos, reage com medo ao se defrontar com o desconhecido. Não foram poucas vezes que lendas e eventos sobrenaturais foram associados a doenças, como histórias de vampiros, que na verdade eram pessoas portadoras de uma enfermidade chamada porfíria ou lobisomens, pessoas que eram portadoras de hipertricose. Da mesma maneira, nós metodistas estamos presenciando a criação de uma nova lenda quase sobrenatural, baseada nos Metodistas Confessantes.


Pastores, pastoras, leigos e leigas estão sendo “orientados” por lideranças locais, regionais ou institucionais a não participarem da Rede Metodista Confessante pois, segundo essas lideranças, os Metodistas Confessantes são um grupo que contesta a estrutura da Igreja Metodista. Outros consideram os Metodistas Confessantes uns rebeldes que querem atacar a autoridade da Igreja Metodista.


Triste engano. Nós Metodistas Confessantes publicamos em nosso blog um documento chamado “Movimento dos Metodistas Confessantes” (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2009/09/movimento-dos-metodistas-confessantes.html ) onde explicamos detalhadamente aquilo que motiva e impele nossa atuação na Igreja Metodista. Entre os pontos mencionados, destaco:


Convite à união - Nós, metodistas, sempre fomos do dissenso na experiência, do    pluralismo no pensar e deixar pensar, mas nos reconhecíamos intensamente na vida comunitária e na disposição de caminhar juntos/as. Somos de origem diferente na mesma Igreja que nos acolheu um dia: pietistas, puritanos, crentes pentecostais, carismáticos, da tradição litúrgica, da transformação social, da denúncia profética, do trabalho pela justiça no mundo.


Recuperar o dissenso na experiência e a unidade (diferente de hegemonia) na vida comunitária e nos propósitos de ser Igreja é a principal motivação da Rede Metodista Confessante. Não temos dificuldade em caminhar junto com irmãos/ãs metodistas de experiência de fé diferente da nossa. É chegado o tempo de percebermos, de uma vez por todas, que as divisões e cortes dentro de nossa Igreja não decorem das questões relacionadas às formas como cada indivíduo expressa sua espiritualidade. Mas, por nossos compromissos íntimos ou pela ausência deles.


No cristianismo todos sãos sacerdotes e sacerdotisas - Ao passo devemos tolerar as diferentes expressões de fé dentro de nossa igreja e fora dela, é preciso sermos intolerantes com todas as formas de oportunismos, corrupções, desonestidades, autoritarismos e personalismos que permeiam as estruturas eclesiásticas.


Nós, Metodistas Confessantes (e Metodistas mundiais), cremos que todos/as são ungidos/as por Deus; que o sacerdócio é universal para todos/as os/as crentes e que, portanto, não há entre nós, maiores nem menores. Conseqüentemente rejeitamos a idéia equivocada que há, entre nós, “autoridades incontestáveis”; aliás, esse é um dos pontos que nos difere de outros grupos religiosos.


Nós, Metodistas Confessantes, entendemos que é necessário recuperar a Igreja como comunidade “terapêutica”, espaço que propicia a acolhida e colabora para a conversão das pessoas e das estruturas sociais; comunidade que crê no poder do Evangelho de transformar pelo amor, graça e pela responsabilidade.


Poder é Serviço - O sentido do Sacerdócio Universal de todos/as os/as crentes deve ser antídoto também para a tentação ao governo eclesial despótico. É preciso relembrar que o metodismo é conciliar, conexional e até episcopal; nessa ordem. Em muitos lugares mundo afora o metodismo não é episcopal (Inglaterra, igrejas do esforço missionário inglês e outras como a do Uruguai) ao contrário, mas defende o princípio de que o poder na Igreja é exercido a partir dos concílios e que as igrejas devem viver em conexão. Não é o episcopado que une o metodismo universal, mas a missão e o serviço.


Para o bem da Igreja e da democracia interna, é importante termos uma ordem presbiteral forte, bem formada, valorizada e, no essencial, coesa (diferente de homogênea). Episcopado é condição temporária e especial; e a depender dos abusos do poder e da irrelevância para o caminhar da Igreja, pode vir a ser abolido pelo Concílio, que é o lugar onde leigos/as e clérigos/as, através do voto, fazem as mudanças que julgam necessárias à vida da Igreja.


Esta introdução é necessária para desfazer qualquer insinuação sobre as motivações que levaram um grupo de homens e mulheres metodistas, no apagar das luzes do 18º Concílio Geral, a se corresponderem e passarem a refletir sobre os rumos do metodismo histórico no Brasil e no mundo. Desta forma nos apresentamos à Igreja Metodista e enviamos, ainda no início das atividades da Rede Metodista Confessante, a todos os bispos e bispa nosso documento fundante, nos apresentando e explicando nossa motivação.


Ainda assim surgem vozes acusando os Metodistas Confessantes de serem rebeldes e confrontadores, que buscam combater a autoridade na Igreja Metodista. Quando os Metodistas Confessantes enviam cartas eletrônicas (e-mails) aos bispos e bispa, a superintendentes distritais e pastores, não o fazem com o intuito de combaterem a autoridade, mas sim de fortalecê-la. Desta maneira buscamos contribuir de maneira efetiva para o caminhar de uma Igreja que deve ser absolutamente comprometida com as raízes históricas do metodismo, do cristianismo e com o Reino de Deus nessa terra marcada por tantos males, entre eles, a miséria material e ética.

Em novembro de 2009 os Metodistas Confessantes enviaram correspondência ao pastor titular da IM Central em Juiz de Fora, ao SD e ao bispo-presidente da 4ª Região (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2009/11/carta-de-solicitacao-de-informacoes-aos.html) dentro do espírito democrático, conciliar e conexional que caracteriza o metodismo desde sua formação, no século XVIII. O fizemos de maneira aberta, democrática, respeitosa, direta e sem subterfúgios solicitando informações sobre atos que poderiam ferir a práxis e a doutrina metodista histórica.

Também em novembro de 2009 enviaram, segundo os mesmos princípios acima mencionados, uma carta para o revmo. Roberto Alves (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2010/08/carta-de-solicitacao-de-informacoes-ao.html) pedindo informações sobre pastores da região que tornavam obrigatória a participação no projeto Empacto/Impacto para membros que exercessem cargos de liderança nas igrejas locais, o que contraria não apenas a doutrina do Sacerdócio Universal dos Crentes como também os Cânones (Art.11) e o programa Dons e Ministérios.


Em novembro de 2009 e em agosto de 2010 os Metodistas Confessantes remeteram ao revmo. Adolfo Evaristo de Souza uma carta solicitando sua ação pastoral visando garantir a unidade da igreja e do Corpo de Cristo com vistas a intermediar e solucionar conflitos que estavam atingindo um grupo de cristãos metodistas que congregavam na Igreja Metodista Central de Belém (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2010/09/o-caso-belem-e-carta-solicitando-acao.html). Esses irmãos e irmãs, membros ativos desde a época da Igreja Metodista da Pedreira, passaram a ser discriminados e perseguidos em sua própria congregação por serem metodistas ativos em eventos e organismos ecumênicos antes da decisão do 18º Concílio Geral, por defenderem o envolvimento da Igreja em questões sociais e de combate à exclusão, sendo caracterizados como praticantes de atos da Teologia da Libertação e desta maneira excluídos dos cargos nacionais, regionais e locais, bem como alijados da participação da vida ministerial da IMCB de maneira ilegal, anticanônica e sem ação que visasse conduzir aquela igreja e seus membros à convivência harmoniosa e ao provimento do cuidado pastoral necessário.

No mês de outubro de 2010 enviaram cartas a diversos bispos e à Secretária Para a Vida e Missão da Igreja, revda. Joana D’Arc Meireles, comunicando atos de flagrante desrespeito às orientações publicadas nas Cartas Pastorais sobre as eleições e o uso indevido da Cruz e Chama, logomarca institucional da Igreja Metodista, que é propriedade intelectual protegida por registro no Instituto Nacional de Marcas e Patentes (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2010/09/as-eleicoes-de-2010-e-os-bispos.html).


Ao fazê-lo, os Metodistas Confessantes não cometem ato de rebeldia ou de confronto à autoridade na Igreja Metodista. Ao contrário. Ao fazê-lo, os Metodistas Confessantes defendem a autoridade da Igreja Metodista. Autoridade legítima é aquela que emana do povo que, representado por seus delegados e delegadas, elege seus líderes que agem de acordo com os princípios do Evangelho, com a compreensão do metodismo histórico, que é conexional, conciliar e democrática e de conformidade com as orientações Canônicas da Igreja Metodista. Ao fazê-lo, os Metodistas Confessantes buscam resistir a toda forma de autoritarismo, autocracia e despotismo, que impõe sua vontade ao defenestrar aqueles que se opõe a medidas ilegais, anticanônicas, contrárias à prática do protestantismo, sistema religioso que confronta a visão católico-romana de autoridade monárquica e infalível. Ao fazê-lo, os Metodistas Confessantes assumem posição clara de defesa da herança wesleyana, da legalidade e da autoridade legítima e evangélica. Ao fazê-lo, oferecem oportunidade para que, em especial, o Colégio Episcopal, possa se manifestar de forma a deixar evidente que certas práticas (mesmo que partam de bispos) não condizem com os valores desse órgão máximo responsável por proteger e zelar pela unidade e herança da Igreja Metodista. Ao fazê-lo, defendem a autoridade da Igreja Metodista de todo e qualquer abuso que deturpa e solapa essa autoridade.

Quando os Metodistas Confessantes publicam manifestos dirigidos ao Concílio Geral defendendo posições favoráveis à participação da Igreja Metodista em órgãos ecumênicos que contam com a participação da Igreja Católica (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2010/07/manifesto-ao-19-concilio-geral-da.html) e defendem esta posição em petição pública que pode contar com a participação de toda e qualquer pessoa metodista (http://www.ipetitions.com/petition/manifesto19cg/), não o fazem por rebeldia ou rejeição à autoridade conciliar que, em 2006 em Aracruz, tomou as decisões que os Metodistas Confessantes discordam. Ao contrário. Dentro dos mesmos parâmetros democráticos e legais que permitiram que a proposta que previu a retirada da IM dos órgãos ecumênicos, nós elaboramos uma reflexão a respeito da história metodista, da doutrina metodista em todo o mundo de participação ecumênica e testemunho de unidade. A diferença é que ao fazê-lo, os Metodistas Confessantes o fazem em público, convidando toda a igreja a participar desta reflexão, publicando nossos documentos, convidando as pessoas a fazerem parte de nossa lista de discussão e abrindo nossa petição para a participação de todos e todas. Não o fazemos no escuro da noite, em reuniões secretas, em articulações inter-regionais entre delegados e listas de nomes para serem votados. Fazemo-lo às claras, em plena luz do dia, em respeito e consideração à nossas autoridades episcopais, que são sempre comunicadas sobre nossas posições e convidadas à discussão.


Quando os Metodistas Confessantes tornam públicas as propostas que serão deliberadas no 19º Concílio Geral (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2011/04/caderno-de-propostas-ao-19o-cg-da.html) e emitem um documento aberto a todos os conciliares e participantes onde expomos nossa opinião e instamos os conciliares a refletirem sobre importantes aspectos referentes à caminhada missionária e ministerial da Igreja Metodista (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2011/05/carta-aberta-aos-conciliares-e.html), o fazemos lembrando os princípios democráticos que nortearam a caminhada de nossa denominação até os dias de hoje, baseados no Sacerdócio Universal dos Crentes e nos Cânones e na Constituição da Igreja Metodista, que versam, no artigo 5º de nossa constituição, que “A forma de governo da Igreja Metodista é episcopal e seu sistema, representativo”, ou seja, garantindo voz e vez à membresia leiga e clériga através da eleição de delegados e delegadas que os representam nos Concílios nos diversos níveis de atuação. Lembramos também que os Metodistas Confessantes não tem delegados no Concílio Geral, não articularam listas inter-regionais, não apóiam nenhum presbítero como candidato a bispo, não participam de conchavos e de acordos sorrateiros que são, infelizmente, tão característicos do atual momento político da Igreja Metodista.


Por fim, acusam os Metodistas Confessantes de ser um grupo fechado, uma seita, uma sociedade secreta que quer se imiscuir nas instâncias de poder para impor sua vontade e seus interesses particulares. Nada mais incorreto. Os Metodistas Confessantes são leigos, leigas, clérigos e clérigas de todas as regiões eclesiásticas e missionárias, com nomes e rostos conhecidos. São pastores, professores de escola dominical, evangelistas, missionários, participantes de pastorais, ministérios e instituições metodistas nos níveis local, distrital, regional e nacional. São crentes ativos e ativas nas suas igrejas locais, diligentes e operosos na evangelização, na ação docente, ação social e na proclamação dos valores do Reino de Deus. São pessoas que participam das classes de Escola Dominical em igrejas locais conhecidas por todos. A Rede Metodistas Confessante publica todas as suas posições em seu blog (http://metodistaconfessante.blogspot.com/) e conta com uma lista de discussões aberta (http://br.groups.yahoo.com/group/metodista_confessante/). Tão aberta que nossa lista abriga pessoas que não compartilham as mesmas visões e opiniões que nós, o que é uma prerrogativa metodista desde a época de Wesley (Quanto a todas as opiniões que não danificam as raízes do cristianismo, nós pensamos e deixamos pensar). Todavia, ao sermos tão abertos, sabemos da existência de pessoas que entram no grupo e costumam divulgar conteúdos de nossas conversas, de maneira distorcida, descontextualizada e deturpada, o que reforça o preconceito e a falsa noção de que os Metodistas Confessantes são rebeldes; que combatem a autoridade da Igreja Metodista. Ora, se assim fosse, seriamos mais cuidadosos e criaríamos um grupo fechado com pactos de silêncio, tal qual vem acontecendo nos moldes dos “Encontros com Deus” e Impacto/Empacto. Ao contrário, nossas opiniões são públicas e nossos Encontros Presenciais e nossas agendas estão disponíveis em nosso blog.

Estes são os Metodistas Confessantes. São cristãos e cristãs autênticos/as e apaixonados/as pela Igreja Metodista. São trabalhadores na Seara do Senhor. São estudiosos da herança wesleyana e preocupados com o testemunho da Igreja Metodista e com a perenização da vocação metodista na sociedade. São pessoas que não se conformam com o barateamento da Graça, com a comercialização da Fé e com a banalização do Evangelho. São pessoas que, como Wesley, temem mais que o Povo Chamado Metodista passe a ser seita morta que deixe de existir como Igreja.

Fabio Martelozzo Mendes
Membro da Igreja Metodista na Lapa e moderador da Rede Metodista Confessante.

Nenhum comentário: