terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Nota de solidariedade a Dom Pedro Casaldáliga

Nota de solidariedade a Dom Pedro Casaldáliga



Ao se aproximar a desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsèdè, após mais de 20 anos de invasão, quando os não indígenas estão para ser retirados desta área, multiplicam-se as manifestações de fazendeiros, políticos e dos próprios meios de comunicação contra a ação da justiça.

Neste momento de desespero, uma das pessoas mais visadas pelos invasores e pelos que os defendem é Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, a quem estão querendo, irresponsável e inescrupulosamente, imputar a responsabilidade pela demarcação da área Xavante nas terras do Posto da Mata.

As entidades que assinam esta nota querem externar sua mais irrestrita solidariedade a Dom Pedro. Desde o momento em que pisou este chão do Araguaia e mais precisamente, desde a hora em que foi sagrado bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, sua ação sempre se pautou na defesa dos interesses dos mais pobres, os povos indígenas, os posseiros e os peões. Todos sabem que Dom Pedro e a Prelazia sempre deram apoio a todas as ocupações de terra pelos posseiros e sem terra e como estas ocupações foram o suporte que possibilitou a criação da maior parte dos municípios da região.

Em relação à terra indígena Marãiwatsèdè, dos Xavante, os primeiros moradores da região nas décadas de 1930, 40 e 50 são testemunhas da presença dos indígenas na região e como eles perambulavam por toda ela.  Foi com a chegada das empresas agropecuárias, na década de 1960, com apoio do governo militar, que a Suiá Missu se estabeleceu nas proximidades de uma das aldeias e  até mesmo conseguiu o apoio do Serviço de Proteção ao Indio para se ver livre  da presença dos indígenas. A imprensa nacional noticiou a retirada de 289 xavante da região os quais foram transportados em aviões da FAB, em 1966, para a aldeia de São Marcos, no município de Barra do Garças.

Em 1992, a AGIP, empresa italiana que tinha comprado a Suiá Missu das mãos da família Ometto, quis se desfazer destas terras. Por ocasião da ECO-92, sob pressão inclusive internacional, a empresa destinou 165.000 hectares para os Xavante que, durante todo este tempo, sonhavam em voltar à terra de onde tinham sido arrancados. Imediatamente  fazendeiros e políticos da região fizeram uma grande campanha para ocupar a área que fora reservada aos Xavante, precisamente para impedir que os mesmos retornassem. Já no dia 20 de junho de 1992, algumas áreas tinham sido ocupadas e foi feita uma reunião no Posto da Mata, da qual participaram políticos de São Félix do Araguaia e de Alto Boa Vista e também havia repórteres. A reunião foi toda gravada. As falas deixam mais do que claro que a invasão da área era  exatamente para impedir a volta dos  Xavante. "Se a população achou por bem tomar conta dessa terra em vez de dá-la para os índios, nós temos que dar esse respaldo para o povo" (José Antônio de Almeida ? Bau, prefeito de São Félix do Araguaia).  "A finalidade dessa reunião é tentarmos organizar mais os posseiros que estão dentro da área... Se for colocar índio no seu habitat natural, tem que mandar índio lá para Jacareacanga, ou Amazonas, ou Pará..." (Osmar Kalil ? Mazim, candidato a prefeito do Alto Boa Vista). "Nós ajudamos até todos os posseiros daqui serem localizados... Chegou a um ponto, ou nós ou eles (os Xavante) porque nós temos o direito... Dizer que aqui tem muito índio? Aqueles que estão preocupados com os índios que tem que assentar. Tem um monte de país que não tem índio. Pode levar a metade... Na Itália tem índio? Não, não tem! Leva! Leva pra lá! Carrega pra lá! Agora, não vem jogar em nós, não... ( Filemon Costa Limoeiro, à época funcionário do Fórum de São Félix do Araguaia)

A área reservada aos Xavante foi toda ocupada por fazendeiros, políticos e comerciantes. Muitos pequenos foram incentivados e apoiados a ocupar algumas pequenas áreas para dar cobertura aos grandes. O governo da República, porém estava agindo e logo,  em 1993, declarou a área como Terra Indígena que foi demarcada e, em 1998 homologada pelo presidente FHC.  Só agora é que a justiça está reconhecendo de maneira definitiva o direito maior dos índios.  O que D. Pedro sempre pediu, em relação a esta terra, foi que os pequenos que entraram enganados, fossem assentados em outras terras da Reformas Agrária. Mas o que se vê é que, ontem como hoje, os pequenos continuam sendo massa de manobra nas mãos dos grandes e dos políticos na tentativa de não se garantir aos povos indígenas um direito que lhes é reconhecido pela Constituição Brasileira.

Mais uma vez, queremos manifestar nossa solidariedade a Dom Pedro e denunciar mais esta mentira de parte daqueles que tentam eximir-se da sua responsabilidade sobre a situação de sofrimento, tensão e ameaça de violência que eles mesmos criaram, jogando esta responsabilidade sobre os ombros de nosso bispo emérito.

5 de dezembro de 2012
Conselho Indigenista Missionário - CIMI - Brasilia
Comissão Pastoral da Terra - CPT - Goiânia
Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia - São Félix do Araguaia
Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção - ANSA - São Félix do Araguaia
Instituto Humana Raça Fêmina - Inhurafe - São Félix do Araguaia
Associação Terra Viva - Porto Alegre do Norte
Associação Alvorada - Vila Rica
Associação de Artesanato Arte Nossa - São Félix do Araguaia
Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação - GPMSE - Cuiabá
Associação Brasileira de Homeopatia Popular - ABHP - Cuiabá
Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso - FDHT - Cuiabá
Centro Burnier Fé e Justiça - CBFJ - Cuiabá
Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento - FORMAD - Cuiabá
Instituto Caracol - ICARACOL - Cuiabá
Rede de Educação Ambiental de Mato Grosso - REMTEA - Cuiabá

A Rede Metodista Confessante expressa seu apoio a esta nota de solidariedade e lamenta o fato da Igreja Metodista ter deixado de priorizar a pastoral indigenista e de desativar tal ministério em algumas regiões.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Quem são os metodistas?




Quem são os metodistas?



Quem são os metodistas, e por que se chamam assim? É o que nos pergunta um leitor da província de Foggia. "Pode-se intuir – escreve ele em sua carta – que os luteranos derivam da figura de Martinho Lutero; os calvinistas, de Calvino; mas por que os pertencentes à Igreja Metodista se chamam assim, por que levam esse nome?".

A reportagem é de Luca Baratto, publicada na revista Riforma, publicação semanal das Igrejas Evangélicas Batista, Metodista e Valdense italianas, 07-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Os metodistas – aqueles que hoje fazem parte de uma grande família de Igrejas protestantes nascidas na Inglaterraem 1700, mas presente em todo o mundo, a ponto de contar com cerca de 70 milhões de membros – devem o seu nome a um pequeno grupo de pessoas que se reuniram em torno da figura do teólogo John Wesley

Essas pessoas se reuniam todas as noites para ler a Bíblia, dedicar-se com fervor às visitas aos encarcerados, a ajudar os pobres, à luta contra o analfabetismo. Eram tão constantes, tão metódicos na sua piedade pessoal que, no fim, alguns começaram a chamá-los, com um pouco de polêmica, de "os metodistas".

Na realidade, John Wesley e os seus amigos, ao longo do tempo, realmente inventaram um novo método, um novo modo de ser Igreja. A Inglaterra do século XVIII estava em plena Primeira Revolução Industrial. Milhares de pessoas se deslocavam do campo para as cidades, passando a viver em bairros degradados, em casas sujas, onde toda relação social se perdia. Alcoolismo, trabalho infantil, condições de trabalho humilhantes para homens e mulheres eram os males comuns daquela sociedade. 

Wesley entendeu que a sua Igreja, a Anglicana, não sabia ir ao encontro dessas pessoas. Ele pensava que não eram as pessoas que deviam se aproximar da Igreja, mas sim que era a Igreja que devia ir ao encontro delas. "O mundo é a minha paróquia", foi logo o seu lema que o levou a pregar nas praças e nos locais públicos de todos os tipos e a fazer das casas das pessoas, e não das igrejas, os lugares de uma fé cristã renovada. 

Uma espiritualidade quente e envolvente, uma pregação que não só pedia que as pessoas mudassem, mas anunciava a pessoas brutalizadas que mudar de vida realmente era possível. Uma grande atenção e sensibilidade social, tanto que justamente dentro do metodismo nasceram os primeiros sindicatos britânicos. Todas essas foram as chaves para o sucesso desse movimento que se espalhou por todo o mundo.

Na Itália, os metodistas chegaram há 151 anos: a sua história é tão longa quanto a da Itália unida. No país, eles trouxeram a mesma mistura de espiritualidade autêntica e de compromisso com a justiça social. Viver a própria fé na cidade e buscar o bem comum: essa continua sendo a espiritualidade metodista.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Curso breve de Música e culto

Curso breve de Música e culto





Este é um breve curso de liturgia e música, elaborado pelo pr.Francisco Thiago e ministrado em um encontro na Congregação em Cristais Paulistas. A linguagem do curso é prática, fugindo jargão acadêmico, apropriado para uso nas igrejas locais.

Download aqui.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Pastor que participou de ato contra homofobia é dispensado do Seminário Regional da 6ª Região

Pastor que participou de ato contra homofobia é dispensado do Seminário Regional da 6ª Região

O missionário norteamericano rev.Robert Stephen Newnum, missionário da General Board of Global Missions (Junta Geral de Missões Globais - órgão da Igreja Metodista Unida para evangelização) a trinta e cinco anos no Brasil, vinte e cinco dos quais dedicados à educação teológica no CEMETRE, foi dispensado pela direção do Seminário Regional, onde ministra atualmente Teologia Sistemática e História do Metodismo. Estima-se que aproximadamente 90% do clero metodista ativo na 6ª Região tenha sido aluno do rev.Stephen em sua carreira de professor de teologia.

A dispensa do missionário aconteceu após sua participação no ato contra a homofobia acontecido em Maringá em maio de 2012, no qual aconteceram reuniões de diálogo entre a comunidade LGBT e representantes da Arquidiocese de Maringá (Igreja Católica) e uma marcha, conhecida como Parada LGBT de Maringá. Sua participação, bem como de sua esposa, Maria Newnum, membro da Igreja Metodista Central de Maringá e ativista política na cidade, com destacada atuação pelo Partido Verde, gerou questionamentos na comunidade evangélica de Maringá, o que a motivou a escrever uma carta de esclarecimento para o pastor da IMCM, para o SD do Distrito de Maringá e para o bispo da 6ª Região. 

Ver carta aqui: http://metodistaconfessante.blogspot.com.br/2012/11/o-perfeito-amor-lanca-fora-todo-o-medo.html

Mesmo após a carta, na qual o casal Newnum reafirma sua fidelidade aos princípios bíblicos e aos documentos metodistas, as pressões continuaram a crescer e como resultado o rev.Stephen foi dispensado de suas funções no CEMETRE (Centro Metodista de Ensino e Treinamento) sem maiores explicações.



O rev.Stephen solicitou, via e-mail enviado no dia 25/10 e carta enviada nodia 27/10, uma reunião com o diretor do CEMEC para ser informado sobre os motivos de sua dispensa. No mesmo dia 27/10 foi solicitada, via carta, uma reunião com o revmo.João Carlos Lopes, bispo da 6ª Região, para também tratar do assunto. Até o presente momento, véspera da viagem do rev.Stephen aos Estados Unidos, para reunir-se com a GBGM, ele não recebeu nenhum retorno formal ou solicitação de agendamento de reunião. 

Acredita-se que a dispensa do rev.Stephen seja devido a pressões por sua participação em questões consideradas polêmicas: o ato contra a homofobia e a participação em diálogos ecumênicos junto ao MECUM (Movimento Ecumênico de Maringá) e GDI (Grupo de Diálogo Inter-religioso), mesmo que em nenhuma delas houvesse acontecido nenhum ato ou palavra de desrespeito ou desobediência aos documentos oficiais, posições e doutrinas tanto da United Methodist Church, igreja na qual o rev.Stephen foi ordenado, quanto da Igreja Metodista. Temos em nossa Igreja Metodista outro caso de retaliação por causa de um "delito de opinião".

Atualização (06/12)

1) Embora haja a carta de dispensa por parte do Conselho diretor do CEMETRE, o bispo é "soberano" para aceitar ou não a solicitação do Conselho Diretor.

2) O rev.Stephen Newnum solicitou por duas vezes que a Presidenta do Conselho Diretor fornecesse os motivos da sua dispensa, o que não foi atendido.

3) O revmo. bispo João Carlos apontou a possibilidade de receber o rev.Stephen para uma reunião em Curitiba. Todavia, a resposta foi dada às vésperas da viagem do rev.Stephen para os EUA para reunir-se com a GBGB, o que impossibilitou tal reunião

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O perfeito amor lança fora todo o medo - Carta à Igreja Metodista Central de Maringá-PR

O perfeito amor lança fora todo o medo

Em maio de 2012 o material de divulgação da Primeira Parada LGBT de Maringá causou revolta e indignação na comunidade cristã e católica da cidade por retratar a Basílica Nossa Senhora da Glória (Catedral Menor) em seus cartazes de divulgação.

Em reuniões convocadas pelo arcebispo Anuar Battisti e por Luiz Modesto, organizador da Parada LGBT de Maringá, foram convidadas diversas pessoas de ambos os grupos, com a participação do rev.Robert Stephen Newnum convidado a mediar o encontro. Na ocasião, como fruto dos diálogos entre a comunidade católica e LGBT concluiu-se sobre a necessidade de que ambos os grupos devessem parar de demonizarem-se mutuamente e devessem impedir que a mídia continuasse a estimular a animosidade entre eles. Além do canal de diálogo estabelecido, a Igreja Católica decidiu pelo aprofundamento nos estudos e diálogos e passou a estudar a criação de uma Pastoral da Diversidade Sexual.

Todavia, como o recrudescimento dos ânimos ainda era uma realidade e que um pastor evangélico de Maringá convocava os fiéis a uma "guerra santa contra os gays" para a Marcha para Jesus de Maringá, realizada em 19 de maio de 2012, o rev.Robert Stephen Newnum e a esposa irmã Maria Newnum resolveram participar de ambas as marchas, tanto da Marcha Para Jesus quanto da Parada LGBT, com o objetivo de enfatizar o ministério salvífico e reconciliatório de Jesus e servir como exemplo de convivência pacífica e de ponte de diálogo. A participação do irmão e da irmã metodistas certamente chamou a atenção da mídia e repercutiu tanto na cidade quanto nacionalmente.

Parada Gay de Maringá (PR) reúne 5.000 pessoas

A repercussão nos veículos jornalísticos veio a levantar dúvidas em pessoas que participam da comunidade da Igreja Metodista Central de Maringá e a convite do pastor titular da igreja, rev.Eliel Cordeiro Silvestre, a irmã Maria Newnum escreveu uma carta, enviada para o pastor titular da IMCM, para o Superintendente Distrital e para o bispo da 6ª Região, que agora reproduzimos abaixo.

O perfeito amor lança fora o medo: Carta à Igreja Metodista Central de Maringá





A/c: Rev. Eliel Cordeiro Silvestre

C/c: Rev. Cláudio Luiz Freire dos Santos, Superintendente do Distrito Noroeste

C/c: Revmo. Bispo João Carlos Lopes, Presidente da 6a R.E. e Vice-presidente do Colégio Episcopal, no exercício da Presidência

Em função da preocupação de alguns irmãos e irmãs metodistas com a minha saúde espiritual escrevo, primeiramente, para expressar minha gratidão por todo cuidado e solidariedade que eu e Steve recebemos de nossa amada igreja, do Rev. Eliel Cordeiro Silvestre e do SD Rev. Cláudio Luiz Freire dos Santos.

Algumas dessas preocupações decorrem da minha participação junto aos movimentos que atuam contra a violência e a favor dos direitos humanos. Dentre as últimas ações está o atendimento a um chamado do Sr. Luiz Modesto, representante da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - ABGLT, para nos reunirmos junto com o Arcebispo Dom Anuar Battisti e conhecermos o mapa da violência decorrente da homofobia em Maringá e região.

Espantou-nos saber que, em muitos casos, os primeiros sinais da violência decorrentes da homofobia são deixados nos corpos e na alma dos adolescentes e jovens por pessoas das próprias famílias e todas elas, nos casos apresentados a nós, de famílias cristãs.

Em um ano foram 39 agressões (a última da artista plástica Elisa Riemer) e, dentre elas, 15 foram cometidas pelos pais, segundo dados do site Maringay, que registrou ainda 2 casos de suicídios, 12 tentativas de suicídio, 6 assassinatos de travestis e 45 adolescentes expulsos de casa. Segundo informações do Rev. Célio Camargo da Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), alguns desses jovens são encontrados pelas ruas das cidades em estado lastimável de degradação humana. O Rev. Célio Camargo, ao que sabemos, é o único pastor que acolhe, na casa abrigo da ICM, alguns desses jovens, e os aproxima do amor e da graça de Jesus Cristo.

Diante desse quadro causou-nos tristeza e espanto saber da convocação de um pastor evangélico de Maringá para uma “guerra santa contra os gays”, antecedendo a primeira parada contra homofobia, popularmente chamada de “Parada Gay”, em Maringá. De imediato nos veio um conselho que sempre damos aos nossos alunos de teologia; diante de algo que você não sabe o que fazer pergunte: em meu lugar o que Jesus faria?

Nunca vimos na Bíblia Jesus tomando o lado do violento. Jesus sempre aparece defendendo os mais fracos, os mais pobres, os que não tinham voz. Assim, depois de orarmos a Deus, chegamos à conclusão que Jesus iria para a linha de frente da “guerra santa” e, caso houvesse qualquer tentativa de violência, sairia em defesa dos gays. Não nos restou alternativa, senão imitá-lo.

Evidentemente que nos lembramos ainda da orientação dos bispos e da bispa: “Ressaltamos que a Igreja não aceita a homofobia e abomina toda e qualquer perseguição à qualquer ser humano por conta do seu estilo de vida, da mesma forma que não podemos nos calar diante de qualquer situação que agrida a dignidade da vida.” (Pronunciamento do Colégio Episcopal sobre a PL 122/2006 - 2011).

Foi nesse sentido que concedi uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo, reafirmando a minha crença de que a Igreja é imitadora do amor e da bondade de Jesus e não propagadora do ódio e da violência. Algo que, infelizmente, a imprensa ajuda a solidificar ao dar ênfase às manifestações decorrentes de ações isoladas de indivíduos cristãos.

Meus irmãos e irmãs, eu e Steve somos constantemente tentados a ficarmos reclusos em nosso lar, celebrando nossos cultos domésticos, bem à moda da família Wesley dos primórdios do século dezoito. Mas em nosso peito bate dois corações missionários que nos impulsionam para vermos o mundo, como via o fundador do metodismo, como uma grande paróquia. De fato nossa maior angústia é percebermos o quão pouco temos feito nessa grande paróquia onde há tantas vidas em sofrimento, em especial por causa do desamor de nós, os cristãos.

Enquanto Deus nos conceder saúde e graça, seguiremos sem medo das pessoas diferentes de nós, pois como diz 1 João 4.18, “o perfeito amor lança fora o medo”. Além disso, é mandamento de Jesus que amemos o próximo como a nós mesmos.

Compartilho com os irmãos e irmãs um texto que orienta a nossa caminhada de fé - Mateus 25.31-46. A cada vez que o lemos, encontramos novos sentidos e novos desafios que ainda temos pela frente.

Pedimos sempre que Deus nos ajude a nunca envergonharmos o nome da nossa amada Igreja Metodista, mas antes, revelá-la como ela é: uma comunidade missionária à serviço do povo.

Que a graça, o amor e a paz permaneçam com o Rev. Eliel Cordeiro, que tão cuidadosamente nos pastoreia e, com todos os irmãos e irmãs da amada Igreja Metodista Central de Maringá.

Maria Newnum – Maringá, 9 de setembro de 2012

Disponível - http://newnum.org/mblog/2012/10/17/o-perfeito-amor-lanca-fora-o-medo-carta-a-igreja-metodista-central-de-maringa/

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

WESLEY E OS POBRES: UMA AVALIAÇAO TEOLÓGICA LATINOAMERICANA DA ÊNFASE AOS POBRES NOS SERMÕES DE JOHN WESLEY


WESLEY E OS POBRES: UMA AVALIAÇAO TEOLÓGICA LATINOAMERICANA DA ÊNFASE AOS POBRES NOS SERMÕES DE JOHN WESLEY
Claudio de Oliveira Ribeiro*


Este artigo foi publicado no livro Teologia e prática na tradição wesleyana: uma leitura a partir da América Latina e Caribe  (clique no título e acesse o livro no site da Livraria Editeo)








INTRODUÇÃO

A ênfase que John Wesley (1703-1791) deu às pessoas pobres é um aspecto transparente em seus escritos e traços biográficos. Todavia, esse é um dos pontos que tem sido praticamente esquecido pelas igrejas metodistas no Brasil na atualidade. Nesse sentido, torna-se imperativo um aprofundamento da temática.

Há muitos estudos sobre o tema (“Wesley e os pobres”) especialmente de natureza sociológica e histórica, como será visto a seguir.[1] A tendência nestes estudos é afirmar que a composição dos grupos metodistas na Inglaterra no tempo de Wesley era majoritariamente de pessoas pobres. Dessa forma, o metodismo primitivo era formado por pobres e tinha da liderança (Wesley em especial) uma sensibilidade e um cuidado especial a eles, incluindo a atenção dedicada às crianças.
Teologicamente, além dos estudos históricos e sociológicos, interessa-nos o material produzido por Wesley (sermões, notas, cartas, anotações pessoais). Com isso, seria possível construir mais adequadamente uma teologia que pudesse, em sintonia com os demais estudos sobre Wesley e o metodismo, dialogar com a realidade brasileira e latino-americana em geral. Por suposto, a teologia latino-americana possui no pobre elemento central e aí têm sido encontradas diversas e criativas conexões.
Qual seria a contribuição de Wesley para uma teologia metodista latino-americana? Vários esforços já foram feitos no sentido de responder tal questão. Um dos objetivos dessa modesta análise é apresentar, em linhas gerais, um pouco do debate já estabelecido desde os anos de 1970. Nesse sentido, estão listadas algumas das contribuições mais relevantes para a compreensão de Wesley em contexto latino-americano, em especial pela ênfase dada aos pobres.
Na seqüência, como segundo e principal objetivo desse trabalho, serão feitas algumas observações sobre a referência aos pobres encontradas nos sermões de John Wesley. Com elas, espera-se poder criar bases mais apropriadas para uma interpretação teológica wesleyana em chave latino-americana.


I – A REFERÊNCIA AOS POBRES NA OBRA DE WESLEY
Nas Obras de Wesley (The Works of John Wesley), encontramos a palavra pobre (poor) registrada 1448 vezes. Metade dessas ocorrências está registrada nos diários de Wesley. Outra parte (440 vezes) se encontra nas cartas e escritos doutrinários; e, nos sermões, a palavra pobre se encontra 266 vezes citada.
Entre esses 1448 registros, por 206 vezes trata-se da expressão genérica “ricos e pobres”. Por exemplo: “Eu preguei em Cardiff; e a congregação inteira, ricos e pobres, encontrou-se na presença de Deus” (Journal, quinta-feira, 29/09/1743). Outras duas centenas de vezes, a palavra pobre tem o sentido figurado. Exemplo: “pobre pecador”, “pobre alma”, etc... Eliminados estes dois sentidos da palavra, alcançamos a marca de cerca de 1000 utilizações da palavra pobre (no sentido socioeconômico) por Wesley nos sermões, cartas, notas bíblicas e pessoais.
O que este número representa? O que ele significa? Trata-se de uma quantidade expressiva ou não? Obviamente, somente a matemática das palavras não é suficiente para se compreender a teologia. Todavia, algum significado os números indicam.
Ao se comparar a palavra pobre com outras palavras do mundo religioso, encontradas nas obras de Wesley, percebe-se que ela está acima das demais no número de ocorrências: salvação (salvation) [945], culto (worship, service) [+/- 940], Evangelho (Gospel) [879], misericórdia (mercy) [783], piedade (piety) [186], louvor (praise) [563], redenção (redemption) [267].
Acima do número 1.000 é possível encontrar apenas: Deus (God) [12.693], Cristo (Christ) [3.246], Espírito – no sentido de Santo (Holy Spirit, Holy Ghost) e também humano – [2.963], fé (faith) [2.579], pecado (sin) [2.222], graça (grace) [1.612], céu (heaven) [1.379], oração (prayer) [1.174].
Portanto, com essa comparação, é inegável o destaque que a referência aos pobres possui nas obras de Wesley. Isso significa, entre outros aspctos, que as propostas pastorais espiritualizantes que usualmente não permitem a ênfase nos pobres precisam se perguntar se, de fato, estão dentro da tradição wesleyana.[2] Por outro lado, revela que o cotidiano no qual a teologia wesleyana foi forjada foi marcado por uma relação concreta com pessoas, grupos e famílias pobres.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Duas manifestações metodistas sobre questões indígenas e das populações em risco - Márcio Monteiro Rocha

Duas manifestações metodistas sobre questões indígenas e das populações em risco  - Márcio Monteiro Rocha


Após a manifestação da revda.Maria Imaculada, o irmão Márcio Monteiro Rocha, do Projeto Luz e Vida: Missão Amazônia também teceu importantes considerações sobre o tema.


Graça e Paz,
Sem dúvida, a Cogeam e o Colégio Episcopal jamais fundamentariam os alicerces missionários da Igreja Metodista em ordem de importância. Eles estão elencados no PNM 2012-2016 assim como no PNM 2007-2011, com mínimas diferenças, seguindo outra metodologia. Nossa maior alegria é ver a Igreja Metodista mantendo ações missionárias sobre todos os seus alicerces.
Com uma observação mais atenciosa, percebemos que estes alicerces assumiram uma organização tal que são apresentados naturalmente em ordem de alerta ou de urgência, e não de importância. Concordamos que nem sempre o mais urgente é o mais importante e que nem sempre o mais importante é o mais urgente.
Quando se fala em ênfase missionária, procura-se acentuar a urgência da ação metodista sobre determinado alicerce, o que pressupõe a existência de alicerces menos urgentes. Quando se fala em prioridade missionária, procura-se determinar o alicerce que vem em primeiro lugar, o que pressupõe haver alicerces de menor prioridade. Quando se fala em alicerce, sem a urgência promovida pela ênfase ou sem o destaque promovido pela prioridade, tem-se apenas o alicerce missionário, sem maiores considerações.
Observe, por exemplo, que alicerces missionários como Missão e Comunicação e Missão e Educação Musical e Artística, receberam maior prioridade que o alicerce "Missão, Igreja e o Clamor dos Povos do Campo", isto é, pessoas que dependem da agricultura familiar, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, movimentos populares da terra, etc...
** 1. Evangelização e Expansão Missionária.
* 2. Missão, Igreja e Discipulado.
* 3. Missão, Igreja e Meio ambiente.
* 4. Missão, Igreja e o Clamor do Desafio Urbano.
** 5. Missão, Identidade e Confessionalidade.
** 6. Missão e Igreja Local (ministérios pastoral, leigos e leigas e diaconal)
*** 7. Missão e Renovação da Experiência Religiosa
*** 8. Missão e Comunicação
*** 9. Missão e Educação Musical e Artística
**** 10. Missão, Culto e Liturgia
*** 11. Missão e Educação (cristã e EBD, teológica e secular)
**** 12. Missão e Santidade
**** 13. Missão e Dimensão Pública (cidadania, política nacional e antidrogas)
*** 14. Missão e Ação Social
**** 15. Missão e Escatologia
**** 16. Missão, Igreja e o Clamor dos Povos do Campo (agricultura familiar, quilombolas, indígenas, ribeirinhos e movimentos populares da terra, etc.)
* Valores classificados como "Ênfases Missionárias"
** Valores classificados como "Ênfases Missionárias" e como "Prioridades"
*** Valores classificados como "Prioridades".
**** Valores classificados como "Alicerces" (Cada item da lista também é um alicerce missionário).
O que não é admissível, sob qualquer pretexto, é deixar de enfatizar ou priorizar o Clamor dos Povos do Campo com a mesma abrangência e dedicação com que as seis ênfases e as nove prioridades são discutidas no PNM 2012-2016, visto ser um plano didático de orientação para as ações missionárias da Igreja, envolvendo todo o povo chamado metodista.
Na coluna lateral do PNM 2012-2016 surgem perguntas aos leitores como: "Qual destes fundamentos missionários são mais emergentes em sua realidade local?", "Que área tem maior fragilidade?" e "Como equilibrar estas questões na elaboração do Plano para o próximo período eclesiástico"? Obviamente que, para este quadriênio, determina-se que cada igreja local administre os alicerces missionários segundo a sua realidade local. A pergunta que fazemos aqui é a seguinte: isto é realmente possível à igreja local em termos de transformação social, libertação e salvação, tendo conhecimento do potencial e limite da ação missionária na realidade da área rural?
Prosseguindo, não podemos enfatizar um alicerce como Missão, Igreja e o Clamor do Desafio Urbano em um Plano Nacional Missionário com uma vigência de quatro anos sem o fazer de igual modo em relação ao alicerce Missão, Igreja e o Clamor dos Povos do Campo, ainda mais quando a base de argumentação daquela ênfase é o dado estatístico de que 90% da população brasileira está localizada em áreas urbanas, gerando problemas na saúde, educação, transporte, meio ambiente, etc... Porventura, estes problemas não são parte integrante e a razão do Clamor dos Povos do Campo?
O motivo do nosso questionamento dá-se em função de não haver qualquer ênfase ou prioridade colocada sobre o Clamor dos Povos do Campo composta por pessoas da agricultura familiar, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, movimentos populares da terra, etc... que não dispõe de quase nenhum serviço digno de saúde, educação, transporte ou de qualquer presença significativa do Estado e onde a presença missionária evangélica é absolutamente incipiente e onde os poucos voluntários são recebidos como verdadeiros anjos enviados do céu.
Além do mais, quando se fala de empobrecidos, por exemplo, não se fala de indígenas, ribeirinhos e pessoas em situação de rua porque não fazem parte do cadastro único, que é a base de dados para a construção do mapa da pobreza, já que não são pessoas domiciliadas. Portanto, não se está deixando de enfatizar ou priorizar os 10% da população que está localizada em áreas rurais, mas um contingente estimado em milhares de pessoas que estão à margem da sociedade (o grifo é meu!).
Sabemos que há mais de 616.000 indígenas no Brasil distribuídos entre mais de 340 etnias, além de mais de 33.000 comunidades carentes somente na Amazônia brasileira com pouca ou nenhuma presença estatal ou eclesiástica. Há mais de cem etnias indígenas, no Brasil, sem presença missionária, e mais de cento e oitenta sem uma Igreja local entre eles.
Em termos mais específicos, há mais de dezessete mil comunidades ribeirinhas e indígenas sem nada do evangelho no Norte do nosso país, e falamos aqui apenas de pessoas domiciliadas, que aparecem no mapa da pobreza e que fazem parte dos 10% não enfatizados e não priorizados entre os alicerces missionários metodistas no PNM 2012-2016.
Depois da ampla discussão sobre o Clamor do Desafio Urbano, encontramos uma frase escrita como pouco ou quase nada se soubesse acerca do Clamor dos Povos do Campo: "Alertar sobre a urgente necessidade de análise dos aspectos que envolvem os Povos do Campo". E nada mais. ( o grifo é meu!)
Se deixássemos de colocar ênfase ou prioridade sobre o ensino bíblico acerca dos 10% que representam os dízimos a Deus ou se deixássemos de atribuir ênfase ou prioridade sobre os 10% da população economicamente dominante, logo sentiríamos que algo está errado em nosso planejamento. Longe de qualquer juízo de valor perguntamos: em uma perspectiva bíblica, teológica, pastoral, ética e cidadã esta falta de ênfase ou prioridade sobre os 10% da população que vive em áreas rurais é justa?
Resumindo na prática...
  1. A falta de ênfase ou prioridade sobre o Clamor dos Povos do Campo contribui significativamente para que maravilhosos empreendimentos missionários metodistas como o Barco-Hospital Missionário não tenha recursos financeiros suficientes para avançar além de algumas cidades satélites de Manaus, levando milhares de comunidades ribeirinhas e indígenas a esperar ainda mais para saber que dias melhores virão.
  2. A falta de ênfase ou prioridade sobre o Clamor dos Povos do Campo contribui significativamente para que extraordinários projetos metodistas como a Missão Maruwai, no extremo norte de Roraima, não disponha de todas as condições necessárias para atender aos clamores dos indígenas macuxis no tocante à educação,saúdetransporte e evangelização das comunidades vizinhas.
  3. A falta de ênfase ou prioridade sobre o Clamor dos Povos do Campo contribui significativamente para que as comunidades indígenas tukanas e tukanizadas como os dessanas e ticunas dos derredores de Manaus e Alto Rio Negro clamem pelo ingresso ao sistema de ensino, cursos profissionalizantes que contribuam para sua empregabilidade, condições mínimas de saúde, habitação e agricultura familiar em reservas ambientais.
  4. Finalizando, porém longe de esgotar o assunto, a falta de ênfase ou prioridade sobre o Clamor dos Povos do Campo contribui significativamente para que iniciativas Metodistas como a Missão Tapeporã não tenha a amplitude necessária para influir no fim do processo de extermínio, autoextermínio e suicídio coletivo de Guaranis-Kaiowá no Mato Grosso do Sul.
Damos Graças a Deus por haver atividades missionárias metodistas sobre todos os seus alicerces, mas questionamos a falta de ênfase e prioridade sobre o Clamor dos Povos do Campo no PNM 2012-2016. Primeiro porque as igrejas do campo não têm condições de atender à demanda de suas respectivas realidades locais sem intenso apoio da comunidade metodista como um todo. Segundo porque se trata de um Plano que orientará as ações missionárias metodistas de clérigos e leigos durante os próximos três anos. Terceiro, porque o PNM 2012-2016 se trata de uma estratégia missionária de suma importância amplamente fundamentada no Plano para a Vida e a Missão da Igreja, canonicamente doutrinário em termos de Vida e Missão.
Se a cristandade urbana, a começar pelas igrejas que estão em regiões mais ricas, não influírem sobre o desenvolvimento missionário do campo, levando consigo sua identidade e confessionalidade, mas também a consciência da necessidade de trabalhar junto às demais frentes missionárias, independentemente de suas denominações, oferecendo a nossa disponibilidade e voluntariedade às iniciativas das Organizações da Sociedade Civil, dos Estados e Municípios e, em casos específicos, até da marinha, exército e aeronáutica no que compete ao apoio a seres humanos em situação de vulnerabilidade, em um futuro próximo lamentaremos o fato de não termos sido mais determinados na execução dos nossos planos, estando em nós o poder fazê-lo. Podemos escolher ser fiéis a Deus e a sua Palavra ou fiéis a inércia religiosa que caracteriza os nossos dias.
"Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?" (Lc 18.7,8)
Em relação às Diretrizes Pastorais para a Ação Missionária Indigenista, há dois volumes apenas na biblioteca da Fateo e a irmã Renilda Santos possui um exemplar. Não existe exemplares a venda no momento. As edições estão esgotadas. Não tenho a versão online para enviar pelo e-mail, mas com a devida autorização fizemos uma cópia dele para você e aguardamos um endereço postal para que possamos enviá-la pelos Correios.
À Disposição
Um Grande Abraço!
Márcio Monteiro Rocha
Projeto Luz e Vida: Missão Amazônia

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Duas manifestações metodistas sobre questões indígenas e das populações em risco - Revda.Maria Imaculada

Duas manifestações metodistas sobre questões indígenas e das populações em risco  - Revda.Maria Imaculada



Acompanhamos recentemente pela mídia as questões envolvendo sobretudo a comunidade Guarani-Kaiowá envolvida em disputas de terra com fazendeiros na região de Mato Grosso do Sul.

Após alguns dias, a revda.Maria Imaculada Conceição Costa, pessoa de referência para a Pastoral Indigenista da Igreja Metodista, divulgou uma carta que foi assumida como posição oficial da Igreja Metodista a respeito da questão, a qual reproduzimos abaixo e endossamos seu conteúdo:


"Primeiramente, o fato do povo metodista não ter conhecimento da presença da Igreja Metodista junto e com os povos indígenas em 10 frentes no Brasil, sendo que hoje estamos em 3 frentes, quer dizer que infelizmente, nosso povo só busca informação e se manifesta quando existe uma notícia de repercussão internacional.
A Igreja Metodista desde 1928 está presente com o povo Guaraní/Kaiowá no MS, lutando com os mesmos em sua luta pela vida, e nos últimos 29 anos com Pastor Paulo e Pastora Ima.
Informo ainda, que no ano corrente saíram várias reportagens no órgão oficial da Igreja-Expositor Cristão, sobre os trabalhos executados pela Igreja junto aos povos indígenas, inclusive com visita da nossa Secretária Executiva para a Vida e Missão da Igreja - Revda. Joana D'Arc Meireles. E ainda mantemos uma comunidade no site Brasil Metodista com postagem de notícias, quase que diárias, mas com apenas 75 membros!!!!
Mas vamos lá: O que fazer?
Se a interpretação dada pela imprensa:  "Grupo de 170 índios ameaça fazer suicídio coletivo em Iguatemi" (Dourados News, 24/10/2012), fosse de morte coletiva: " decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos", com certeza, a repercussão não teria grande alarde, pois seria apenas mais uma notícia de despejo, determinada por juiz de 1ª instância como esta: “MPF pede novo mandado judicial para desocupação de terra indígena em Mato Grosso” (Conesulnews - 27/10/2012)
 O Ministério Público Federal em Mato Grosso entrou com uma nova ação na Justiça pedindo a retirada de fazendeiros da Terra Indígena Marãiwatsédé, no norte do estado. A área pertence aos índios xavantes, mas é ocupada ilegalmente por cerca de 7 mil não indígenas.
Mas, quando se fala em suicídio coletivo, isso gera certa comoção, pois o suicídio individual de crianças e adolescentes  não causa mais impacto. Isso porque, embora nunca tenha ocorrido suicídio coletivo entre os Guarani/Kaiowá, o individual continua acontecendo com frequência desde 1989 (ver notícia da Globo onde repórter faz menção a uma matéria de uma revista e fala em 863 suicídios contabilizados.)
Vemos este número como bem maior com certeza, pois muitos não são registrados. Entre os contabilizados pelo repórter não está uma indígena de 15 anos da aldeia Bororó em Dourados que suicidou no final da semana passada, o que não foi noticiado pela imprensa local.
Com relação aos despejos, a repercussão é quase a mesma do suicídio individual, haja vista que, muitas comunidades indígenas do Mato Grosso do Sul já foram despejadas pelo menos cinco vezes e não houve repercussão alguma, como foi o caso das aldeias: Cerro Marangatu, Campestre, Guassuti, Jarará, Sucuruí, Rio Brilhante, Lima Campo, Porto Lindo e outras.
Hoje, por causa da repercussão internacional que teve essa notícia de "suicídio", os setores do governo (legislativo e executivo), mostram rapidez em tomarem providências, ainda que seja, "pra inglês ver" como é o caso da notícia de 27/10/2012 - Dourados News: "situação de Guaranís/Kaiowás será tema de audiência da Comissão de Direitos Humanos”.
Quando o presidente da Comissão, senador Paulo Paim do PT do Rio Grande do Sul afirmou que pretende realizar o debate com as partes envolvidas no conflito, o quanto antes. E ainda o senador Rodrigo Rollemberg do PSB do Distrito Federal, afirmou: "uma tragédia comprometeria a imagem do Brasil no mundo inteiro e causaria enorme prejuízo à etnia".
É muito bom lembrar, que em outros momentos, já aconteceram CPI’s por  causa dos suicídios, por causa da desnutrição e por causa da terra com presença de deputados na reserva indígena de Dourados e em outras aldeias com muita repercussão e pouquíssima ação. 
É bom observar que para essa reunião dos deputados com as lideranças indígenas do Bororó foram usadas as dependências da Missão Metodista Tapeporã e no decorrer desta reunião, lideranças indígenas enfatizaram a importância da Igreja Metodista e da Missão Kaiowá, da Igreja Presbiteriana.
O que fazemos?
No documento da Igreja Metodista - Diretrizes Pastorais para a Ação Missionária Indigenista - 1999, em sua página 13, aborda sobre a posse da terra  que é também uma garantia constitucional. A  Igreja Metodista entende que a terra é garantia da alimentação, da saúde, da alegria, da celebração, da memória das lutas de resistência e da esperança dos povos indígenas. Dentro desse seu entendimento, ela se compromete entre outros, a denunciar e condenar qualquer invasão a essas terras.
De forma que toda e qualquer iniciativa, tal qual a manifestação de apoio aos Guaranis em Fortaleza e de 9 de Novembro, Ato Nacional em Apoio ao Povo Guarani Kaiowá (várias cidades estão se articulando para organizar atos de apoio ao povo Guarani Kaiowá) são muito bem vindas  e é importante que os/as metodistas estejam envolvidos/as, manifestando-se, somando esforços com outras pessoas e grupos, na promoção da vida e contra qualquer ação que venha produzir morte.
Pastora Maria Imaculada Conceição CostaPessoa de Referência para a Pastoral Indigenista da Igreja Metodista

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ato Ecumênico em Memória dos Mortos e Desaparecidos

Ato Ecumênico em Memória dos Mortos e Desaparecidos




Participe dos atos ecumênicos pela Memória, Verdade & Justiça. O primeiro acontecerá no dia 2 de novembro, no Rio de Janeiro, em memória das pessoas mortas e desaparecidas durante a ditadura civil-militar do Brasil e por todas/os as/o perseguidas/os e e que sofrem violações de direitos pelo Estado. O local: Cemitério de Ricardo de Albuquerque. Horário: 9h.

O segundo acontecerá em São Paulo, também no dia 2 de novembro, no Cemitério de Vila Formosa. Início às 10h30, no portão do Velório. Também recordaremos as pessoas mortas pela ditadura cujos corpos foram enterrados clandestinamente. Mas também lembraremos as vítimas das chacinas praticadas pela violência policial em São Paulo.

Comitê da Verdade Vladmir Herzog; Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça; CLAI - Conselho Latinoamericano de Igrejas; CONIC - Conselho Nacional de Igrejas Cristãs; KOINONIA - Presença Ecumênica e Serviço; REJU - Rede Ecumênica da Juventude.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Mais homenagens a Victor José Ferreira

Mais homenagens a Victor José Ferreira





Faleceu Victor José Ferreira
Clóvis de Oliveira Paradela
Espalhem a notícia dentre os cidadãos do Reino: tombou um príncipe em Israel: nosso querido Victor foi promovido a glória aos 3 minutos de hoje, 25 de outubro.

Nos últimos dias o seu corpo foi morrendo, entrando em falência e sobrou o coração que insistiu em bater durante muitas horas ainda. Quem o conheceu sabe da pessoa amorosa que foi e por isso não poderia ser diferente: seu coração morreria bem depois dos demais órgãos.

Fez carreira na Rede Ferroviária Federal desde os 12 anos, quando entrou como aprendiz na escola profissionalizante em Além Paraíba. Na Rede teve uma carreira brilhante, ocupando vários postos entre Instrutor de Formação Profissional a Diretor de Recursos Humanos e Organizacionais. Após sua aposentadoria ocupou-se em trabalhos de consultoria, tendo prestado serviços a empresas públicas, privadas e do terceiro setor.

Na Igreja Metodista aceitou o convite para ser “pastor de dedicação voluntária” e, posteriormente, pastor suplente, numa época que faltavam pastores na Igreja. Depois voltou à condição de membro leigo da Igreja.

Na condição de presidente do Conselho Diretor do Bennett assumiu interinamente a Reitoria daquele Instituto Metodista nos anos 80, função que ocupou por um ano sem remuneração, acumulando com seu trabalho na Rede Ferroviária.        Na última década foi Superintendente do Cogeime e novamente Reitor do Instituto Metodista Bennett.

O Victor casou-se com Celinéia (Celi), minha irmã. Ele era pessoa extremamente amorosa, abnegada, que sabia promover a vida das pessoas à sua volta, inspirando, incentivando. Não me lembro dele falando mal de alguém ou com expressões maldosas que destroem reputações. Ao contrário, sempre destaca aspectos bons das pessoas.

Com sua generosidade ajudou a muita gente a tomar um rumo na vida, inclusive a mim em minha adolescência. Era um excelente conselheiro e como sabia nos inspirar confiança e visão de futuro.

Durante sua enfermidade nunca reclamou. Falava sempre que estava tudo bem. No dia 16 de outubro foi internado e entrou em coma pela primeira vez.  À minha esposa, Emylucy, médica que o acompanhava nestes dias, sempre dizia “o bom de tudo é que Deus está conosco”. No domingo passado após o culto da tarde fui visitá-lo e por isso fui o último a falar com ele. Após uma rápida conversa e uma oração, despedi-me dizendo “O bom de tudo...” e ele completou “é que Deus está conosco”. Estas foram as suas últimas palavras em vida.

Deus esteve com ele. Hoje seu rosto estava com expressões de tranquilidade. Ele estava bonito, com boa aparência. Deus esteve com ele e agora ele está com Deus.

Coloco aqui uma lápide de honraria a este guerreiro vencedor que “morreu de pé”, meu ídolo e herói da infância e adolescência.

“Deus o deu, Deus o tirou, louvado seja o nome do Senhor.”



Rio de Janeiro, 25/10/2012


João 4:14  “... a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna”.

Estimada irmã Celinéia e familiares,

Um laço rompido, uma partida, um desfecho, é sempre um lamento, uma dor, uma tristeza dessas que nos aquietam e nos fazem parar. O final de uma história, de uma vida, é ainda mais triste, pois sugere saudade, distância, ausência. Quando, porém, a lembrança é capaz de se encontrar com a vitalidade dos bons ideais e o vigor de um trabalho bem feito, a alma se faz nova e a vida, mesmo quando finda, se renova pela eternidade, como uma fonte que jorra para sempre através da amizade que um dia se fez.

São estas as lembranças que o Instituto Educacional Piracicabano da Igreja Metodista e suas mantidas guardarão do Prof. Victor José Ferreira, companheiro desta Instituição de muitos anos como membro do Conselho Diretor e Presidente do Conselho Diretor. Sua contribuição foi ímpar, seu testemunho sinalizador do Reino de Deus e seu zelo inspirador em todos os momentos da vida institucional. Sua ausência será sentida, mas os frutos do seu trabalho permanecerão indicando a força da fé e da esperança na educação e na vida.

Piracicaba, 25 de outubro de 2012

Clovis Pinto de Castro
Diretor Geral
Instituto Educacional Piracicabano da Igreja Metodista


Piracicaba, 29 de outubro de 2012

Muitos escreveram sobre o Victor nos últimos dias

Demorei muito a encontrar esse arquivo.

Gostaria de dividi-lo com vocês. Esse era o Victor que amávamos, de quem sentimos saudades, de quem tantas boas lembranças vão permanecer.

Se alguém de
Abraço

BIA


Em 2007, em resposta a um material que recebi da Domingueira Poética referente ao Dia da Mulher, escrevi ao Victor um texto a partir do qual pretendia agradecer-lhe a gentileza e a atenção. E dizia que achava que “ele devia partilhar essa história que, não sei porque, você nunca relatou nos e-mails. Ela é tão significativa quanto o texto que você nos enviou pelo Dia da Mulher. Desculpe se vai nela um pouco de imaginação, mas é como eu senti seu significado quando a ouvi de você”. Victor respondeu dizendo que talvez a enviasse a uma mala direta mais restrita, que chamava de Mala Direta Afetiva Eletrônica, para “pessoas as quais tenho a liberdade de pedir que não me julguem cabotino”.

Para os que não a leram, acho que é uma história e uma homenagem que valem  ainda hoje.

“São Paulo da correria, das manhãs cinzas, dos mendigos que se espalham. E das pessoas que se ignoram, passando pelas esquinas que acumulam rotinas dos mesmos horários, e que nem assim fazem com que bons-dias se tornem um hábito. Nestes todos dias que levam ao trabalho, ele cruza, quase que cotidianamente, com a mendiga que fica próxima à sede da Igreja Metodista. Como tantas outras, sentada na calçada. Talvez abandonada pela sorte. Talvez abandonada por si mesma antes de ser abandonada pelos outros. Às vezes pedindo ajuda, às vezes recebendo uma moeda. São dezenas os que passam por ela, saídos do metrô que leva e traz diferentes destinos. Mas poucos a olham, pensam no sol e na chuva que torna a chuva um pouco pior, embora mais difícil seja mesmo a solidão, que se soma à fome, talvez ao medo das ruas.

Com o tempo eles se cumprimentam, dele ela passa a receber bom dia, um sorriso. Não sei se chegam a conversar. Mas há um pouco de humanidade na troca de algum aceno entre ambos.

Num 8 de março de um ou dois anos atrás, o nosso Victor passou por uma floricultura para chegar à sede da Igreja Metodista com mais uma de suas gentilezas às tantas mulheres que ali dividiam os espaços consigo. Mas entre o metrô e o edifício, estava a mendiga. E nada lhe pareceu mais natural que ela recebesse a primeira das flores.

Uma lágrima escorreu dos olhos daquela mulher. Foi mais que surpresa. Certamente foi a certeza de ainda estar viva. Talvez de sentir-se renascida. Respeitada. Olhada como gente. De repente, perceber que alguém rompera a barreira do silêncio.

Não o final da história. Nem se a mendiga permaneceu na esquina, nem se continuaram se cumprimentando. Sequer sei o que ela terá feito com aquela flor.

Mas sei que o gesto de dar aquela flor talvez seja o mais significativo que tenha visto, em muitos anos, de respeito e reconhecimento às mulheres.

É muito mais a ele do que à sua lembrança ( eu escrevia diretamente ao Victor)  de envio  de um poema que talvez devêssemos agradecer neste 8 de março.”