segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Metodistas brasileiros participam da Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas - Relato de Alexandre Pupo Quintino (membro da IM em Vila Mariana - SP)

Metodistas brasileiros participam da Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas - Relato de Alexandre Pupo Quintino (membro da IM em Vila Mariana - SP)



Deus da Vida guia-nos à Justiça e à Paz.

A cada 7 anos o Conselho Mundial de Igrejas se reúne em Assembleia em algum canto dessa nossa terra habitável. Mais do que uma reunião administrativa ou um concílio de diversas denominações, as Assembleias são momentos de celebração, reflexão e desafio para todos que ali estão reunidos. A comunidade do CMI é formada por 345 igrejas, de mais de 110 países que somam um total de cerca de 500 milhões de cristãos de todo o mundo. São igrejas de tradição Ortodoxa, Anglicana, Reformada, Unida, Metodista, Pentecostal, Copta, entre outras. Além das igrejas membro, uma série de igrejas participam do conselho como observadoras, como a Igreja Católica Romana, ao lado de inúmeras organizações ecumênicas internacionais, como a Christian Aid e WSCF. Criado formalmente em 1948 o Conselho tem como meta a dedicação e o esforço para a unidade e a reconciliação das igrejas cristãs, o testemunho profético de justiça e paz, e o diálogo inter-religioso para o respeito e resolução de conflitos.



As celebrações das Assembleias ocorrem dentro de tendas para que nos lembremos de que somos um povo em movimento, uma caminhada ecumênica. Deste modo, desde a última Assembleia em Porto Alegre, 2006, o movimento ecumênico se colocou em peregrinação rumo à Coreia. Deus da Vida, guia-nos à Justiça e à Paz, foi o tema escolhido para a caminhada. A península coreana é marcada pela divisão formal desde a Guerra Fria, uma guerra que não terminou oficialmente, e um incrível crescimento do cristianismo nessas terras. Estes foram temas que motivaram tanto a preparação quanto as discussões temáticas e plenárias deste encontro. Um trem chamado “Peace Train” saiu desde Berlim, cidade que também foi historicamente dividida, em direção a Coreia. Nele, cristãos de diversos países e denominações participaram de diversos encontros e atividades que levavam uma mensagem de paz e reconciliação, enquanto viajavam de Berlim, à Rússia, à Pequim, à Seul e, enfim, Busan.




A Assembleia foi iniciada com um momento de oração e celebração com mais de 5.000 pessoas. Aos três toques de um grande gongo coreano, nos lembrando da trindade, se deu inicio a celebração. Um grande coral e uma orquestra que contava com instrumentos tradicionais coreanos foram conduzidos com maestria pelo Professor Tercio Junker, metodista brasileiro. Era a celebração do Deus da Vida que nos reúne como seu povo para o testemunho da justiça e da paz. A prédica foi feita pela sua Santidade Karekin II, Catholicos de todos os Armênios, da Igreja Apostólica Armênia. Em sua mensagem, ele nos lembro dos desafios deste chamado de testemunho e conclamou a comunidade cristã à uma resposta pelos 100 anos do Genocídio Armênio, ainda hoje não reconhecido pelos seus perpetradores.



Ao longo dos 10 dias de reunião os participantes se reuniam em diferentes momentos de reflexão e partilha. O dia se iniciava com um momento cúltico, seguido de estudos bíblicos nas diferentes línguas. Iniciavam-se, então, as sessões plenárias temáticas, que traziam diversas formas de expressão de música, dança, imagens, entre discursos de personalidades convidadas à discutirem sobre o tema proposto. O continente asiático, a missão da igreja, Paz, Justiça e Unidade, foram temas explorados nestas sessões que contaram com a participação dos Irmãos da Comunidade Ecumênica de Taizé, do Arcebispo da Cantuária (sé da Igreja Anglicana) e o Cardeal Koch trazendo uma mensagem do Papa Francisco, entre outros.

Nestas sessões assuntos importantes foram trazidos e desafiavam os participantes. O embargo ao Irã, trazido pela perspectiva de uma cristã armênia local, os desafios dos cristãos na triste história da Libéria, a superação do Apartheid na Africa do Sul, os dramas da imigração, a vergonha do desentendimento teológico que não permite que até hoje cristãos de diferentes denominações não possam celebrar a Ceia do Senhor ao redor da mesma mesa.

Durante a tarde ocorriam diversos Workshops de programas do Conselho e de organizações parceiras, como o Programa Ecumênico de Acompanhamento na Palestina e Israel, EAPPI, programa que há 10 anos trabalha para a resolução do conflito na Terra Santa na perspectiva da paz justa. Também havia uma série organizações com stands montados no Madang, palavra coreana que significa “espaço de encontro” “jardim”, área reservada para exposição e partilha de iniciativas ecumênicas. Nele estavam presentes exposições de arte, como a exposição de “cruzes de todo o mundo”, organizada por uma Igreja Metodista de Seul, instalações com fotografias, espaços de organizações, como a Organização Mundial de Mulheres no Ministério, Kairos Palestine e diversos trabalhos de igrejas coreanas, espaços de oração e intercessão por problemas mundiais e um espaço de diálogo inter-religioso.

Reuniam-se a tarde também as sessões administrativas. Aprovavam-se os relatórios das diferentes comissões, como a Comissão de Diálogo com as Igrejas Pentecostais, Comissão de Povos Indígenas e Comissão de Assuntos Internacionais, e se traçavam as diretrizes do Conselho para os próximos 8 anos. Ocorreu também a eleição dos novos presidentes e do novo comitê central do CMI. Foram eleitos os oito presidentes, sendo 4 mulheres 4 homens. O CMI possuí uma política de representatividade que visa equilibrar a escolha de jovens, homens, mulheres, clérigos, leigos e ortodoxos nas comissões. Entretanto, devido às delegações enviadas pelas igrejas-membro, não foi possível atender às diretrizes de representatividade.  61% de homens, 39% mulheres, 32% leigos, 68% clérigos, 13% jovens, 5% indígenas, 2% portadores de deficiência. Essa representação ensejou discussão principalmente por parte dos jovens, que deveriam ter 25% de presença. É indispensável para a vitalidade do movimento ecumênico a participação de jovens, mas que para isso se torne possível é necessário que as igrejas enviem mais leigos e jovens como delegados, assim como mais mulheres.

Após as sessões administrativas diferentes confissões religiões eram responsáveis por cada uma das orações vespertinas, segundo às suas tradições. Coptas, ortodoxos, anglicanos e pentecostais alimentaram nossa espiritualidade com sua diversidade de estilos, sons e símbolos. É importante marcar a presença dos Pentecostais na Assembleia. A maior igreja pentecostal da Coreia apoiou a realização deste encontro na Coreia e foi a responsável por uma das orações noturnas. Trata-se da Igreja do Evangelho Pleno de Yeodo, Seul, que conta com uma membresia de 830.000 membros. Entretanto, durante todos os dias, manifestantes de diversas denominações protestantes conservadoras da Coreia faziam manifestações do lado de fora do centro de convenções Bexco, onde nos encontravam. Tais protestos foram motivo de discussão também dentro da Assembleia, onde discutíamos como responde-los e chama-los para o diálogo. No último dia as manifestações ultrapassaram o limite da não violência e um dos manifestantes invadiu o local de culto, correu até o altar atirou três ovos, empurrou a pastora que fazia uma oração e gritou palavras de ordem antes de ser interceptado pela segurança. Esse episódio encontra-se dentro de um contexto muito específico da sociedade coreana, especialmente a igreja, fortemente divididas em torno de assuntos políticos, econômicos e sociais da sociedade coreana. A igreja coreana conta com dois Conselhos Nacionais de Igrejas diferentes, sendo que só um apoiou a realização da Assembleia. Deste modo, oramos também pela união interna da igreja dentro da Coréia.

Pessoalmente, a minha participação na Assembleia se deu através do trabalho dos Stewards. Os Stewards são 120 jovens do mundo todo que participam como voluntários e estagiários em áreas importantes para a realização desta. Particularmente, eu participei da comissão de liturgia e música, na qual tive a oportunidade de ajudar na organização e montagem da liturgia, participação nas orações, momentos litúrgicos, produção dos símbolos e na área musical. O programa de Stewards é uma oportunidade única de aprender com mestres que atuam nestas áreas e compreender, de dentro, como funciona o Conselho Mundial de Igrejas e uma Assembleia deste porte. O contato com jovens de diferentes tradições cristãs, contextos culturais, línguas e regiões do mundo é muito enriquecedor, nos ajuda a perceber a grandeza e profundidade do conceito de Fé, Justiça, Paz, Igreja e até do nosso próprio Deus. Tive a oportunidade de compartilhar um pouco do trabalho realizado pela REJU, Rede Ecumênica da Juventude, organização de que faço parte. Nossos trabalhos com a situação da violência urbana e da desigualdade social, a questão de eco-justiça e da luta contra a intolerância religiosa. Volto com ideias e compromissos firmados através destes contatos, partilhas, reflexões e orações. O ecumenismo é um imperativo cristão. El é essencialmente local, leigo e jovem, deve acontecer na base, anunciando de forma profética o Reino da Vida naqueles contextos onde há separação.


Para outras reflexões do Alexandre a respeito da Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas, acessar: http://sacrariopessoal.wordpress.com/2013/11/10/peregrinos-do-caminho/

Um comentário:

Paulo disse...

Alexandre, obrigado pelo seu relato testemunho. Já fui em duas assembleias do Conselho e de fato é uma experiencia impar. Energias boas e seguimos juntos neste barco e nesta jornada ecumenica ... Paulo Ueti.