sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Teologia é no plural – Hugo Assmann e a Teologia Latino-Americana da Libertação

Teologia é no plural – Hugo Assmann e a Teologia Latino-Americana da Libertação




A singularidade da teologia de Hugo Assmann pode ser encontrada em vários aspectos. O texto destaca três deles: a busca incessante pelo “fato maior” de cada momento da história, para que a teologia possa responder, o mais adequadamente possível, aos desafios do tempo presente; a ânsia em forjar uma compreensão ecumênica da vida e da teologia, a fim de que os esforços teológicos não sejam reféns das ‘amarras’ eclesiásticas; e o anúncio, em tom retumbante, de que o Reino de Deus não se esgota na história, mas vai além, e por isso, ajuda a relativizar os projetos humanos, horizontalizantes demais, que tendem a se tornar idolátricos. As três buscas acompanharam o teólogo e possibilitara-lhe, ao longo das décadas de produção científica, que novos enfoques fossem dados, novos temas assumidos e uma compreensão teológica plural formulada e indicada.

Artigo de Claudio de Oliveira Ribeiro



sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A tortura como método: Reverendo Fred Morris

A tortura como método: Reverendo Fred Morris


No dia 11 de dezembro de 1974, eu fui convidado a testemunhar perante um comitê do Congresso dos EUA sobre minhas experiências nas salas de tortura do Exercito Brasileiro.  Neste testemunho entre muitas outras coisas eu disse o seguinte:

“A tortura embrutece e desumanize não apenas aqueles que são torturados mas aqueles que torturam, aqueles que são intimidados pela tortura de outros, e aqueles que se esforçam para ignorar o fato que tortura existe.
“A tortura desumaniza aqueles que são torturados os tratando como menos-que-umano e, em muitos casos, por os forçar a sentir sentimentos menos-que-umano e frequentemente a praticar atos menos-que-umano.  Se uma pessoa é obrigada a trair amigos, companheiros e família pela tortura, como acontece com muitos, o dano psicológico e espiritual poderá ser irremediável, sem falar dos danos físicos que frequentemente resultam.
“A tortura desumaniza aqueles que torturam.  Além da psicopatologia induzida e encorajada naqueles que praticam a tortura, pessoas e governos que torturam, por qualquer motivo, traem o contrato social com seus semelhantes e efetivamente se retiram da comunidade humana.
“A tortura desumaniza aqueles que são intimidados por ela.  Líderes religiosos que deixam de proclamar o Evangelho em sua plenitude por medo; estudantes que deixam de fazer a busca da verdade por medo de represálias; trabalhadores que, por medo de repressão, não se permitem a organizar para defender seus interesses; políticos que somente podem carimbar propostas autoritárias de regimes ditatoriais, por medo das conseqüências de ações de consciência—todos estes, e, de fato, toda a comunidade humana participa na desumanização coletiva causada pela tortura.
“A tortura desumaniza aqueles que tentam ignorar sua existência, dizendo que é ‘assunto interno,’ ou uma fase passageira.  Tal indiferença resseca as fontes de simpatia humana e compaixão e quebra o contrato social da comunidade mundial de estar preocupada com toda a família humana.  Civilização e liberdade não são construídas e nem podem ser mantidas por aqueles que adotam a postura de indiferença.”

Fred Morris
Rev.Fred Morris foi missionário da Junta de Missões Globais da Igreja Metodista Unida no Brasil entre 1969 e 1974 e foi o primeiro cidadão norte-americano a ser torturado pelo regime militar brasileiro. Em 2008 ele foi julgado e anistiado pelo governo brasileiro. 

Em 30 de setembro de 1974 o rev.Fred Morris foi sequestrado pelo Exército Brasileiro. Em 29 de setembro de 2013 ele pregou este sermão na Igreja Metodista Unida Shandon.





quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça

Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça


Dia 10 de dezembro. Dia Internacional dos Direitos Humanos. Dia da entrega do relatório da Comissão Nacional da Verdade.

Notícias sobre a Igreja e a Ditadura.


Comissão relata papel de igrejas no golpe


Documento sobre abusos da ditadura, a ser revelado quarta-feira, menciona apoio e depois condenação de religiosos ao regime de 64. O apoio dado pelas igrejas do Brasil ao golpe militar de 1964 e, mais tarde, à consolidação da ditadura, terá destaque no relatório final da Comissão Nacional da Verdade que será entregue à presidente Dilma Rousseff na quarta feira.


A informação é do coordenador do grupo de trabalho encarregado de analisar a questão religiosa naquele período, o cientista social Anivaldo Padilha.


Em entrevista ao Estado, ele observou que já existe grande quantidade de estudos e pesquisas sobre as perseguições sofridas pelas igrejas e a resistência de religiosos e leigos à ditadura. O colaboracionismo, porém, ainda teria sido pouco estudado. "Lideranças religiosas católicas e protestantes apoiaram o golpe e contribuíram em seguida para a legitimação e consolidação da ditadura", afirmou.




Relatório da Comissão Nacional da Verdade é entregue à presidenta Dilma Rousseff e também disponibilizado na internet


Em solenidade realizada na manhã desta quarta-feira (10) em Brasília, foi entregue à presidenta Dilma Rousseff o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Com quase 4.500 páginas, divididos em três volumes, o material reúne o relato das atividades desenvolvidas pelo colegiado durante os dois anos e sete meses de investigações, além de fatos apurados, conclusões e recomendações.



Ao todo, foram cerca de 1,1 mil depoimentos colhidos durante o trabalho. O capítulo referente ao papel das igrejas na ditadura está no Volume 2, Texto 4, páginas 151 a 196.


Simultaneamente à apresentação do trabalho à presidenta Dilma – observada sob olhos atentos e emocionados de familiares de presos políticos e de outras autoridades no Palácio do Planalto -, o material também foi disponibilizado para a sociedade no site da CNV.




Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade.



Entregue às/os brasileiras/os. Qualquer pessoa pode acessar o conteúdo completo. O Capítulo referente ao Papel das Igrejas na Ditadura está no Voluma 2, Texto 4, páginas 151 a 196. 




Projeto revela memórias dos militantes protestantes durante a ditadura


Nos dias 11 e 12 de dezembro, no Rio, acontece o lançamento simultâneo do documentário “Muros e Pontes: Memória Protestante na Ditadura”, do livro “Memórias Ecumênicas Protestantes” e do acervo digital com mais de 20 mil páginas de documentos, contando a trajetória de homens e mulheres que fizeram parte da resistência protestante à ditadura no Brasil.



Os lançamentos são atrações do seminário “Protestantes, Democracia e Ditadura”, que começa às 14h do dia 11, no Hotel Golden Park, na Glória. (A exibição do filme fica para às 18h, no Auditório da CAARJ/OABRJ, na Avenida Marechal Câmara, nº 210, Castelo). O evento recomeça no dia seguinte, às 9h e continuará trazendo debates com personagens que fizeram e fazem parte de história da resistência protestante (que se entrelaça com a trajetória do Movimento Ecumênico).



Continua em:



segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Metodista, membro do Comitê Permanente de Consenso e Colaboração do Conselho Mundial de Igrejas, envia relatório ao Colégio Episcopal

Metodista, membro do Comitê Permanente de Consenso e Colaboração do Conselho Mundial de Igrejas, envia relatório ao Colégio Episcopal




Eleita em 2006 para integrar o Comitê Permanente de Consenso e Colaboração do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Magali do Nacimento Cunha, envia relatório das atividades desenvolvidas ao Colégio Episcopal da Igreja Metodista. 



Ao Colégio Episcopal da Igreja Metodista



Relato sobre a minha participação em atividades

do Conselho Mundial de Igrejas em 2014



Magali do Nascimento Cunha


1.       Encerramento de participação no Comitê Permanente de Consenso e Colaboração (Diálogo Protestantes-Ortodoxos) [PCCC]


A última reunião do PCCC eleito em 2006 entre os membros do Comitê Central, o primeiro a atuar depois de sua criação, aconteceu de 29 de julho a 1 de julho de 2014, nas dependências da Sede do CMI, em Genebra/Suíça. Visava à avaliação do trabalho do PCCC no período 2006-2013, à avaliação do período do CMI pós-Assembleia de Busan (2013) e ao oferecimento de contribuições para a reunião do novo Comitê Central que aconteceria em seguida, de 2 a 8 de julho de 2014. 


Fui convidada pelo staff responsável pelo programa da reunião do PCCC a contribuir com o estabelecimento de um processo de avaliação do período 2006-2013 com a participação de todos os 14 membros. Ofereci a seguinte metodologia: A) preenchimento de questionário com itens relacionados a: (1) mandato do comitê; (2) Composição do comitê e atuação dos moderadores; (3) encontros realizados; (4) contribuição do comitê à vida do CMI; (5) apoio do staff. B) apresentação da tabulação dos questionários respondidos e reação dos participantes em sessão da reunião, com abertura para observações sobre aspectos positivos e negativos e as possibilidades futuras para o novo PCCC a ser eleito na próxima reunião do Comitê Central. Essa sessão foi liderada por mim e por um bispo da Igreja Ortodoxa em atuação conjunta.


Ao final da reunião foi preparado um relatório com destaque para o processo avaliativo e indicações quanto ao novo Projeto Programático do CMI para o período 2014-2016, a partir das ênfases estabelecidas na Assembleia de Busan. Os membros do PCCC que não seriam mais membros do Comitê Central foram convidados a participar da reunião do Comitê Central que seria iniciada em seguida. Decidi participar nas sessões até a que fosse apresentado o relatório do PCCC, o que aconteceu no dia 4 de julho, quando retornei a São Paulo.


Minha participação no PCCC foi positiva, na minha avaliação, levadas em conta as limitações em torno do meu desconhecimento da realidade das Igrejas Ortodoxas, tão restritas no Brasil. Eu até tinha questionado minha indicação para este comitê com o secretário-geral à época Rev. Samuel Kobia, justamente por esta condição de desconhecimento. Sua resposta foi significativa e deu o tom da minha participação. Ele disse: “Certamente os irmãos ortodoxos conhecem muito pouco do Metodismo no Brasil e na América Latina e vão aprender com a sua participação”. Assim conduzi minha presença nas sete reuniões realizadas (Síria, Rússia, Alemanha [duas], Suiça/CMI [duas]). Não tive condições de participar de uma delas (Chipre) por conflito com agenda de trabalho. Agradeço a Deus pelo aprendizado com a realidade dos irmãos e irmãs Ortodoxas/os nos diferentes contextos visitados e com as tensões teológicas e de visão de mundo que permeiam a relação dele/as com os/as Protestantes. Aprendi também com os irmãos e irmãs reformados/as  e luteranos/as participantes. Busquei, durante todo o tempo, oferecer contribuições com base na formação metodista que tem me acompanhado pela vida.


2.       Indicações para participações a partir de 2015


2.1   Comissão Fé e Ordem

Recebi uma carta do secretário-geral do CMI Rev. Olav Fykse Tveit (anexa) comunicando que fui eleita pelo Comitê Central reunido em julho de 2014 como membro da Comissão Fé e Ordem do CMI. Entendo, que para ser eleita em Comissão do CMI, meu nome deve ter sido referendado pela Igreja Metodista no Brasil, portanto, agradeço ao Colégio Episcopal a confiança em mim depositada. Assumi o compromisso com alegria, porém com temor e tremor, dada a importância desta comissão não só para o CMI mas para a história do movimento ecumênico mundial. Recebi depois contato específico com orientações, materiais e convocando para uma reunião que acontecerá de 22 a 27 de junho de 2015, na Romênia. 


2.2   Indicação do Secretário-Geral do CMI para integrar o Grupo de Referência da  Peregrinação de Justiça e Paz, iniciativa aprovada para o período em curso no CMI pela Assembleia de Busan.

Recebi o convite para integrar esse Grupo de Referência (grupo consultor), acompanhado de convite para ser moderadora dele juntamente com o Prof. Fernando Ens, Igreja Menonita da Alemanha. Aceitei o convite por ser atividade significativa, dada a importância da iniciativa para a vida do CMI e suas igrejas-membros no período 2014-2020. A 10ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas, realizada na Coreia do Sul no final do ano passado, lançou um convite às igrejas-membros e a todas as pessoas de boa vontade de todo o mundo: engajarem-se numa Peregrinação de Justiça e Paz. 


A iniciativa do Conselho Mundial de Igrejas para a Peregrinação de Justiça e Paz tem uma mensagem importante: a compreensão de que a Igreja de Cristo está em peregrinação neste mundo, a caminho de um novo céu e uma nova terra. As igrejas vivem e trabalham por isso. A preposição “de” faz toda a diferença: não uma peregrinação pela justiça e pela paz, mas “de” justiça e paz. Significa que as igrejas precisam seguir no caminho por um novo céu e uma nova terra  testemunhando e trabalhando a justiça com paz (ver documento anexo). A iniciativa foi assumida pelo próprio Conselho Mundial de Igrejas em sua reunião de planejamento de ações para os próximos sete anos, realizada na reunião do Comitê Central em julho (ver também documento anexo com o plano estratégico).


Já participei de duas videoconferências, juntamente com o co-moderador e o staff responsável, para a preparação da primeira reunião do Grupo de Referência, que acontecerá de 22 a 27 de Fevereiro de 2015, no Instituto Bossey (Genebra/Suíça). 


3.       Encaminhamentos resultantes dessas novas participações


3.1   Comissão Fé e Ordem

Já aprendi com os primeiros contatos encaminhados que uma das tarefas de membro da Comissão é estabelecer comunicação entre ela e sua igreja, outras igrejas-membros e organismos ecumênicos do país. Nesse sentido, já fui chamada a essa responsabilidade no que diz respeito ao estudo e aos processos de resposta ao documento da Comissão Fé e Ordem, publicado em 2013, “The Church: Towards a Common Vision”/“A Igreja: Em busca de uma Visão Comum” (versão em espanhol em anexo).


Portanto, irmãos e irmã, bispos e bispa da Igreja Metodista no Brasil, é meu dever como sua representante  na Comissão Fé e Ordem recordá-los/la e reafirmar-lhes da importância do estudo e da divulgação desse documento, especialmente entre as lideranças ministeriais e a Faculdade de Teologia.  Na reunião, na qual devo participar em junho 2015, serei chamada a relatar como está o processo na Igreja Metodista no Brasil em relação a este documento.  Ficarei no aguardo de orientações nesse sentido.


3.2   Grupo de Referência da  Peregrinação de Justiça e Paz

Na reunião,  na qual participarei em Fevereiro de 2015, haverá momento de partilha sobre o significado da Peregrinação de Justiça e Paz para a minha vida espiritual, do ponto de vista pessoal, e também para a minha igreja e para o país. Haverá momento de partilhar as ações que a minha igreja e outras igrejas-membros e organismos ecumênicos estão assumindo como engajamento na campanha. 


Dessa forma, será de grande significado eu receber elementos da liderança de nossa igreja sobre este assunto para poder partilhar no encontro de fevereiro.




São Bernardo do Campo, 1 de dezembro de 2014        
         

Magali do Nascimento Cunha





 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Metodistas assinam manifesto sobre avanços sociais junto a cristãos progressistas de diversas confissões

Metodistas assinam manifesto sobre avanços sociais junto a cristãos progressistas de diversas confissões

“O Brasil que queremos”

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Estimada Presidenta Dilma Rousseff,
Nós, participantes do Grupo Emaús abaixo relacionados, queremos parabenizá-la por seu esforço e desempenho durante a árdua campanha eleitoral, bem como pelas conquistas de seu primeiro mandato. Somos um grupo de teólogos/as de várias Igrejas cristãs, sociólogos/as, educadores/as e militantes que nos encontramos regularmente há quatro décadas. Estamos todos comprometidos na construção de um Brasil, social e economicamente mais justo, solidário e sustentável.

A maioria batalhou, desde o início, em favor do PT e de seu projeto de sociedade. Nessas eleições de 2014, muitos de nós expressamos publicamente nosso apoio à sua candidatura. Discutimos e polemizamos, pois, percebíamos o risco de que o projeto popular do PT, representado pela Senhora, não pudesse se reafirmar e consolidar. Para nós cristãos, especialmente nas milhares de comunidades de base, tínhamos e temos a convicção de que a participação política, de cunho democrático, popular e libertador, se apresenta como um instrumento para realizar os bens do Reino de Deus.

Esses valores são a centralidade dos pobres, a conquista da justiça social, a mútua ajuda, a busca incansável da dignidade e dos direitos dos oprimidos, a valorização do trabalhador e da trabalhadora, a justa partilha e o respeito pela Mãe Terra. Por isso, na linha do diálogo que a Senhora propôs à sociedade, queremos apresentar algumas sugestões para que seu governo continue implementando o projeto que tanto beneficia a sociedade brasileira, especialmente os mais vulneráveis.

O BRASIL QUE QUEREMOS

Estas são as grandes opções que, acreditamos, devem estar presentes na construção do Brasil que queremos:

PROMOVER UMA REFORMA DO SISTEMA POLÍTICO. Uma reforma que acabe com o financiamento de campanhas eleitorais e partidos políticos por empresas privadas, e estabeleça o financiamento público. Uma reforma que possibilite a participação dos cidadãos e cidadãs no processo de tomada de decisões:
– sobre a política econômica;
– sobre todo e qualquer projeto que tenha forte impacto social e ambiental;
– sobre a privatização de empresas estatais e de serviços públicos.


Uma reforma que contemple também a democratização do Poder Judiciário, pois ele é, hoje, o menos controlado dos três poderes.


Só assim poderemos dizer que caminhamos para uma democracia política, econômica, social e cultural, num diálogo efetivo entre membros da sociedade política e da sociedade civil, que signifique governo do povo, pelo povo, para o povo.


REFORÇAR UM MODELO ECONÔMICO MAIS SOCIAL E POPULAR. Repensar criteriosamente a privatização de serviços públicos e de nossas riquezas naturais (entre as quais o petróleo). 

Orientar um modelo econômico centrado nas pessoas, na realização de seus direitos e numa relação harmoniosa com a natureza, no “bem viver” – como condição para enfrentar a grave crise ecológica na qual estamos imersos. Deve ficar claro para todos, assim o desejamos, que o governo Dilma governa todo o País, mas privilegiando os pobres e aqueles que não são capazes se manter por sua própria conta.

REALIZAR UMA AUDITORIA DA DÍVIDA PÚBLICA, externa e interna, conforme exigência de nossa Constituição (Constituição Federal, Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, art. 26, 1988).

Precisamos saber a quem deve e quanto deve realmente o Brasil, e de que forma foi feita esta dívida. A única auditoria que o Brasil fez, em 1931, constatou que 60% da dívida eram irregular, legalmente inexistentes. Em 2000, tivemos um Plebiscito Popular sobre a Dívida Externa, do qual participaram 6 milhões de pessoas, e 95% votaram pela realização da auditoria da dívida. O Equador realizou uma auditoria da dívida pública em 2009, e descobriu que 70% da dívida eram irregulares. A partir de então, passou a pagar apenas 30%, o restante foi investido em saúde e educação.


REAVALIAR OS MEGAPROJETOS À LUZ DE CRITÉRIOS ECOLÓGICO-AMBIENTAIS E SOCIAIS para que não ameacem o meio ambiente e o habitat de povos indígenas, quilombolas e populações ribeirinhas. Investir nas energias renováveis, especialmente na energia solar – visto que somos um dos países mais ensolarados do mundo. Estabelecer uma estratégia para o gradual fim da utilização de fontes de energia prejudiciais ao meio ambiente e perigosas à vida, como a energia nuclear e as termelétricas.

PROTEGER O MEIO AMBIENTE: Há anos, cientistas, movimentos sociais, entidades ambientalistas e muitas ONGs vêm advertindo para os sérios problemas climáticos que o Brasil teria se mantiver o tipo de desenvolvimento predatório implementado até agora. O que era uma previsão está ocorrendo diante de nós: a crise mais séria de falta de água de que já ouvimos falar, com riscos evidentes para a população, e a ocorrência de chuvas torrenciais, verdadeiras tempestades, em diferentes lugares do País, que causam destruição e mortes.

A desconsideração para com a Amazônia e o Cerrado, com a continuidade do desmatamento – mesmo que o ritmo do desmatamento tenha diminuído -, é o principal fator para as chuvas desmedidas no Norte e a seca no Sudeste. O Brasil precisa assumir a meta do “desmatamento zero”.


A falta d’água é fruto de vários fatores, entre os quais a desatenção para com as condições de vitalidade dos nossos rios, a realização de megaprojetos, a destruição das matas ciliares, a poluição das águas e a ausência de infraestrutura sanitária e tratamento de esgotos. O Brasil tem uma situação privilegiada no mundo: 13,8% da água doce estão aqui. O maior aquífero, o Alter do Chão, se encontra em nosso País. E, no entanto, vários de nossos rios estão secando, e começa a faltar água em muitos lugares. A segunda maior reserva subterrânea de água doce do mundo, o aquífero Guarani, vem sendo contaminado pela infiltração de agrotóxicos. Vemos como urgente uma política que privilegie uma mudança da nossa matriz energética em direção a energias mais limpas (solar e eólica), com menor impacto ambiental (grandes hidrelétricas) ou agravamento da contaminação ambiental e do aquecimento global (térmicas a carvão, petróleo e gás).


DEFENDER OS DIREITOS DE POVOS INDÍGENAS E QUILOMBOLAS: Os primeiros habitantes desta terra foram os povos indígenas. Quando os portugueses aqui chegaram, calcula-se que havia cerca de cinco milhões, repartidos em mais de 600 povos, com suas diferentes culturas e línguas. A colonização provocou um verdadeiro genocídio: povos inteiros desapareceram, restando, hoje, menos de um milhão e pessoas. Muitos deles não têm mais terra onde morar – eles que eram os donos milenares destas terras – e estão sendo dizimados, como é o caso dos Guarani-Kaiowá. Outros estão perdendo suas terras e, sobretudo, seus rios, para megaprojetos, para o agronegócio, para mineradoras. O mesmo acontece com comunidades quilombolas.

É urgente garantir os direitos constitucionais desses povos, restabelecer suas condições de vida, fazendo florescer toda a riqueza de sermos um País pluriétnico, pluricultural e plurilinguístico, se é que queremos chamar a nossa sociedade de civilização: uma civilização que não faz respeitar os direitos humanos não tem direito a este nome.


REALIZAR A REFORMA AGRÁRIA. Esta é uma reivindicação dos trabalhadores rurais que data da primeira metade do século XX, e que foi um dos motivos para o golpe militar de 1964. 

A ditadura impediu a reforma agrária, mas os governos posteriores também não a realizaram.

É uma reforma estrutural necessária para acabar com a concentração da propriedade da terra – onde 1% dos proprietários detém quase metade da terra -, para democratizar o seu acesso, fazendo com que a terra se destine a quem nela queira trabalhar e produzir alimentos para a população. E garantir condições favoráveis para as pessoas poderem se manter no campo.


PROMOVER A REFORMA URBANA, para democratizar o direito à cidade. Que as cidades sejam feitas para as pessoas e não para os automóveis; investir no transporte público de qualidade, priorizar o uso dos trilhos (metrô, trens), reduzir o tempo de deslocamento entre casa e trabalho. No que diz respeito à habitação, conter a especulação imobiliária e garantir que todos tenham condições de morar dignamente, com pleno acesso aos serviços públicos.

RESTRINGIR TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS. Até há alguns anos, havia dúvidas sobre se os transgênicos faziam mal à saúde. Este ano, um manifesto de 815 cientistas de todo o mundo alertou os governos de que os transgênicos representam um perigo e que se deveriam estabelecer uma moratória de cinco anos sem transgênicos, até que pesquisas independentes comprovem que fazem bem ao ser humano. É urgente uma política para reduzir, controlar e acabar com este tipo de plantio que está prejudicando a geração atual, mas prejudicará, ainda mais, as gerações futuras. E pior que isso, permite o controle de nossa agricultura por grandes multinacionais desta área, cujo único interesse são os lucros cada vez maiores, pondo em risco nossa soberania alimentar.

O mesmo se pode dizer sobre o uso de agrotóxicos: nós somos o maior consumidor de agrotóxicos em nível mundial. Nos países desenvolvidos, vários dos agrotóxicos que aqui ainda são usados foram proibidos há mais de 20 anos. Como chamou nossa atenção o cineasta Sílvio Tendler, “o veneno está na mesa”. É absolutamente fundamental estabelecer uma política de estrito controle sobre as substâncias que entram nos nossos alimentos, e reduzir sistematicamente o seu uso.


REFORMA TRIBUTÁRIA. Reformar o nosso sistema tributário para que ele seja progressivo, isto é, para que pague mais quem ganha mais, e pague menos (ou nada) quem ganha menos, o que implica que o imposto sobre a renda tenha mais peso que o imposto sobre o consumo.

Introduzir o imposto sobre as grandes fortunas, de modo a reduzir a enorme desigualdade social que caracteriza nosso País. Aumentar o imposto sobre a propriedade territorial rural, para acabar com o privilégio dos latifundiários. Introduzir a taxação sobre o capital financeiro (bancos e investimentos): “taxa sobre transações financeiras” (a famosa Taxa Tobin). Esta reforma é fundamental para reverter o atual sistema tributário, gerador de desigualdade.


POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA. Precisamos, urgentemente, de uma nova política de segurança pública e de reforma de nosso sistema prisional, para que se torne regenerativo e não apenas punitivo. Estão encarcerados/as, hoje, no Brasil, cerca de 550 mil presos/as. 

A maior parte destes/as se encontram ali por crimes contra o patrimônio ou por tráfico de drogas, não por crimes letais. No Brasil, ocorrem cerca de 50 mil homicídios dolosos por ano. A maioria das vítimas é jovem, pobre, negra, e do sexo masculino. Este genocídio precisa acabar, e temos meios para isso. Que a segurança pública seja exercida para proteger a vida e os direitos dos cidadãos, e não apenas a propriedade.

DEMOCRATIZAR OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. É necessária uma legislação que torne a liberdade de informação e de expressão uma realidade para todos os brasileiros (e não apenas para a elite que controla a grande mídia), e que abra o espectro da comunicação, quebrando o atual oligopólio – que favorece unicamente a um pequeno grupo de grandes proprietários, em detrimento dos direitos da maioria.

UNIVERSALIZAR OS DIREITOS HUMANOS, políticos, civis, econômicos, sociais, culturais e ambientais, com respeito à diversidade. Garantir um sistema de saúde pública de qualidade, assim como de educação, transporte, saneamento básico. Que se combata, com todo o rigor, a violência policial, o emprego da tortura contra presos comuns e a situação degradante dos presídios superlotados.

VALORIZAR O TRABALHADOR E A TRABALHADORA: Garantir trabalho para todos/as. Trabalho digno e não precarizado. Redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução dos salários, como repartição dos abusivos ganhos de produtividade do capital. 

Reaparelhamento do aparato fiscalizador do Ministério do Trabalho. Combate à terceirização.

O CONTROLE SOCIAL DA GESTÃO PÚBLICA, para garantir um serviço público voltado para os interesses dos cidadãos. É fundamental que estes possam exercer o controle da atividade parlamentar, assim como o controle dos governos (municipais, estaduais, federal). Reapresentar o projeto de Participação Social. Criar Observatórios de Controle Social (OCS) em todos os municípios brasileiros, formados por representantes da sociedade civil.

A ÉTICA NA POLÍTICA E DA POLÍTICA. O comportamento ético é essencial para a vida do cidadão e, especialmente, para aquele/a que pretende se dedicar ao serviço da sociedade, do bem comum, ao serviço público. Nenhuma política baseada na corrupção levará a uma sociedade justa, democrática, solidária e equitativa. Uma outra política é possível, com punições exemplares e reforma de nossas instituições, de modo a coibir a impunidade.

Aproveitamos para afirmar que nos empenharemos em colaborar, através dos meios de que dispomos, para que essas sugestões se tornem possíveis e façam avançar o projeto de sociedade que todos almejamos.


Desejamos sucesso em sua nova gestão, invocamos sobre a Senhora a lucidez e coragem do Espírito Criador e, sobre seu governo, todas as bênçãos divinas de luz, paz e amor solidário.


Seus irmãos e irmãs
AFONSO MURAD Teólogo, ambientalista e assessor da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). (MG)
ALESSANDRO MOLON – Advogado e Deputado Federal. (RJ)
ANDRÉA RODRIGUES MARQUES GUIMARÃES – Doutora em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre MG-4 348 699. (MG)
ANTONIO CECCHIN – Irmão Marista. Advogado. Fundador da Comissão Pastoral da Terra – RS. Militante dos movimentos Sociais, Pioneiro da luta e organização dos catadores no Brasil. Assessor do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável de Porto Alegre. 6000123148 RS. (RS)
BENEDITO FERRARO – Teólogo. Professor de Teologia PUC – Campinas
RG 3568777-0. (SP)

CARLOS MESTERS – Biblista. Membro fundador do Centro de Estudos Bíblicos/CEBI. (MG)
CLÁUDIO DE OLIVEIRA RIBEIRO – Pastor Metodista. Professor Universitário. RG 04794811-1. (SP)
EDSON FERNANDO DE ALMEIDA – Teólogo. Pastor da Igreja Cristã de Ipanema. Coordenador do “Compassio: teologia arejada, pastoral comprometida”.
RG 112625819. (RJ)

EDWARD NEVES MONTEIRO DE BARROS GUIMARÃES – Teólogo. Membro da Sociedade de Teologia e Estudos da Religião (SOTER). Professor de Cultura Religiosa e Filosofia na PUC Minas. Coordenador do Curso de Especialização em Teologia do Centro Loyola. RG M-4 997 414 (MG)
EKKE BINGEMER – Profissional Independente de Administração de Serviços. (RJ)
FRANCISCO DE AQUINO PAULINO JUNIOR – Teólogo. Presbítero da diocese de Limoeiro do Norte – CE. Professor da Faculdade Católica de Fortaleza e Universidade Católica de Pernambuco. Assessor de Pastorais Sociais.
RG: 2008858604-3 (CE)

FREI BETTO – Jornalista. Escritor. Assessor de Movimentos Sociais. RG 14214910 SSP-MG (SP)
FREI SINIVALDO SILVA TAVARES – Teólogo. Professor de Teologia Sistemática na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) e no Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA). M 2327250 SSP/MG (MG)
JETHER RAMALHO – Sociólogo. Membro da Igreja Cristã de Ipanema. Membro fundador do Centro de Estudos Bíblicos/CEBI e do Conselho Editorial do Boletim REDE. (RJ)
JOSE OSCAR BEOZZO – Historiador. Teólogo. Coordenador Geral do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular – CESEEP (SP). Professor Universitário. RG 2.769.363-6 SSP-SP (SP)
LEONARDO BOFF – Teólogo. Filósofo. Escritor. Membro da Comissão Internacional da Carta da Terra. Autor de Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres, Vozes 2014. RG (Genésio Darci Boff): 02 773 327-8 Detran (RJ)
LÚCIA RIBEIRO – Socióloga. Membro do Iser – Assessoria. Membro do Centro Alceu Amoroso Lima. RG 055068274 IFP/RJ. (RJ)
LUCILIA RAMALHO – Vice-Presidente do Centro de Recreação Infantil (CRI) da Igreja Cristã de Ipanema. (RJ)
LUIZ ALBERTO GÓMEZ DE SOUZA – Sociólogo. Diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Candido Mendes. Membro do Centro Alceu Amoroso Lima. RG 04488154591 IFP/RJ. (RJ)
LUIZ CARLOS SUSIN – Teólogo. Professor do Programa de Pós-Graduação e de Filosofia da PUC/RS na cadeira de Ética Ambiental. Secretário Geral do Fórum Mundial de Teologia e Libertação. Membro do Comitê de Redação da Revista Internacional de Teologia Concilium. RG 1003162623. (RS)
LUIZ EDUARDO W. WANDERLEY – Sociólogo. Professor da PUC-SP. Membro da Diretoria do CEESEP e da Ação Educativa. (SP)
MAGALI CUNHA – Jornalista. Docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo. Editora do Blog Mídia, Religião e Política. RG 05477006-0 (IFP/RJ). (SP)
MANFREDO ARAÚJO DE OLIVEIRA – Filósofo. Professor Titular da Universidade Federal do Ceará. RG 99010318053. (CE)
MARCELO BARROS – Teólogo. Escritor. Coordenador latino-americano da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT). RG 4242073 – SSP – GO. (PE).
MARCIA MARIA MONTEIRO DE MIRANDA – Educadora popular. Membro do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis e do Centro Nacional dos Direitos Humanos de Brasília. 11.878.008-9 – Detran. (RJ)
MARIANGELA BELFIORE WANDERLEY – Assistente Social. Docente da PUC/SP. Professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC-SP. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Movimentos Sociais da PUC-SP Membro do Grupo Nutrição e Pobreza do Instituto de Estudos Avançados – IEA da USP. (SP)
MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Teóloga. Articulista do Jornal do Brasil. Professora da PUC/RJ. Membro do Comitê de Redação da Revista Internacional de Teologia Concilium. (RJ)
MARIA HELENA ARROCHELLAS – Teóloga. Diretora do Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade/CAALL. RG 121.534.700-5. (RJ)
MARIA TEREZA BUSTAMANTE TEIXEIRA – Médica sanitarista. Professora Associada da UFJF. Pesquisadora do Instituto Nacional de Câncer lotada na UFJF. Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva. Coordenadora adjunta do NATES/UFJF. Editora Geral da Revista de APS. (MG)
MARIA TEREZA SARTORIO – Pedagoga. Educadora Popular. Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política. RG MG 18292550. (ES)
OLINTO PEGORARO – Filósofo. Professor Titular de Ética da UERJ. Trabalha com Movimentos Sociais na Comunidade do Borel. (RJ)
ROSEMARY FERNANDES DA COSTA – Educadora. Teóloga. Membro da SOTER. Assessora da CNBB. Professora da PUC Rio, Teresiano CAP/PUC e Secretaria de Educação do RJ. RG 3 750 717-5 – DETRAN – RJ (RJ)
ROSILENY SCHWANTES – Cientista da Religião. Psicóloga. Professora da Universidade Nove de Julho. RG 38 910 786 4. (SP)
TEREZA MARIA POMPEIA CAVALCANTI – Teóloga. Assessora de CEBs. Professora na PUC-RJ. (RJ)
Corrêas (RJ), 09 de novembro de 2014.

Publicado originalmente em: http://agenoticias.com.br/politica/o-brasil-que-queremos/